Ela toca a campainha do asilo, é dia de visita. Caminha com seu visitado até o jardim, param ao lado do pé de acerola. Um aparelho de som instalado sobre uma cadeira garante a trilha sonora de chiados; a ausência da antena não incomoda ninguém ali, exceto ela. Bancos de cimento carcomidos formam um semicírculo, estabelecendo a geografia do encontro. Eles sentam-se lado a lado. Na pauta, passado e presente. O futuro chegou faz tempo, trazendo seus velhos. É sábado.
Uma senhora que mora ali passa pelos dois, resolve entrar na conversa. É a visita dentro da visita. Escolhe seu lugar na quase roda, se apresenta. Beira os setenta anos, está cheia dos colares, dos anéis. A velha interfere no encontro, como os chiados do rádio interferem na tarde de sábado. Ela modifica a pauta estabelecida, mas não se acanha; segue contando sua fabulosa e não menos carcomida vida. Eles vão lhe dando corda.
Diz que participou da última edição do Big Brother Brasil, mas saiu antes do final. “Muita fofoca”. Pergunta três vezes o que ela é dele. Avisa que precisa descansar, tem gravação logo mais. Gravação? A novela das sete, ela é uma das atrizes. “Não assiste?”. Levanta-se, ajeita um dos colares e se despede dos dois, que permanecem nos bancos de cimento. Antes, ela faz questão de anunciar: está grávida. O bebê nasce por esses dias, é um menino. O pai? Roberto Carlos. É, o rei.