
3/11
Sigo me esquivando de palavras com S. Virou uma espécie de jogo. Ganho quando consigo dizer uma frase inteira sem a letra. Perco quando não tem jeito e sai tudo assim, meio sibilante. A sorte é que só eu sei do jogo, e que não tem dinheiro na parada.
10/11
Tenho alucinações e vejo “Dabi Atlante” escrito em tudo quanto é lugar. Nas placas de trânsito, nos luminosos do shopping, na capa do gibi da Turma da Mônica e até nas embalagens de biscoito. Ninguém escapa incólume depois de fitar, na luz, uma logomarca durante quarenta e cinco minutos e de boca aberta. Publicitários (e dentistas) não são de Deus.
16/11
Para não assumir a covardia e confessar a minha incapacidade de lidar com dores, aftas, privações e passa-fios, vivo bolando estratégias para me livrar do aparelho. “Dr. Claudio, apostei mil pratas com um amigo que eu aguentaria três meses. Ganhei. Pode tirar, por favor?”. “Dr. Claudio, sou repórter e estou fazendo uma matéria sobre aparelhos ortodônticos. Para dar realismo à coisa, me propus a viver o cotidiano de quem usa. Deu tudo certo, a matéria sai amanhã. Pode tirar, por favor?”. Vai que cola.
19/11
Na hora do beijo quero saber do marido, de dez em dez segundos, se o aparelho incomoda, como é, como fica, enfim, suas impressões no geral. Levo bronca, o beijo vai para o beleléu. Também flagrei-me buscando no Google “como beijar de aparelho”. Descobri que não estou só.
É falta de solidariedade rir muito?
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