Dezembro, o não-mês

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Calendário “Ver Sacrum”, 1901

Dezembro não é mês de verdade.

Ao menos, se a referência for o dicionário, que descreve o período com 28, 29, 30 ou 31 dias. Nem fevereiro, o diferentão, é tão curto quanto dezembro. O último mês do ano é vendido numa embalagem com 31 dias, mas dentro só tem 20. Dezembro é caso de Procon.

Nanico em duração, gigante em pressa e animação. Ou desanimação. Uma espécie de meio-mês das alegrias natalinas e consumistas. Das melancolias gerais, também. Carrega o peso dos onze meses que lhe antecedem, castigando-o com o cansaço cumulativo. Reúne realizações, frustrações e esperanças na mesma sala para o conversê regado a chester e panetone. Abreviado, dezembro mal chega e já é mês passado, ainda que cheio de presentes.

É, no fundo, um mês de mentirinha. De faz de conta. Mês onde tudo acontece, e nada acontece.

Não tem mês mais doidinho que dezembro. A gente que o deixa maluco, enfiando nos seus nem quinze dias úteis muito mais tarefas do que o pobrezinho dá conta, e que os demais meses administram razoavelmente bem.

Se os meses fossem pessoas, dezembro teria forte indicação para a psicanálise. É o mais problemático e cheio de angústias. Não à toa, a literatura dezembrina é vasta.

Além disso, é mês de gastança voluntária, sendo que o mês que o sucede, janeiro, é o das gastanças compulsórias. Só eu tive a sensacional ideia de ou antecipar o Natal, ou adiar IPVA, IPTU, material escolar?

Se Jesus visse o fuzuê que tomou conta do mês de seu aniversário, daria um esporro: “Pópará!”.

Por isso, dezembro não é mês de verdade. É um engodo gregoriano. A gente deveria ir às ruas, protestar. Sei lá, bater umas panelas. Que dia seria melhor?

Melhor deixar para o ano que vem. Vinte e três de dezembro. Não se encontra mais ninguém.

2 comentários em “Dezembro, o não-mês

  1. Olá!

    Que texto legal! Você retratou perfeitamente bem o não-mês (rsrs) e de forma inteligente e bem humorada. Amei. Parabéns!

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  2. Concordo com você! Dezembro é mesmo um mês bem esquisitinho! Mês da pressa, das compras, da gastança, da comilança, do trânsito infernal, dos shopping cheios. E de uma mágica para esticar o dinheiro para os presentes. Mágica essa que nunca dá certo!

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