Na terra da garoa, os dois policiais militares montam guarda próximo à saída do metrô República. Paramentados, armados e treinados, estão prontos para salvar a cidade. Mas eu, que estou ao lado deles esperando meu irmão, sei: eles são só gente como a gente.
Sem perder de vista os pivetes no pedaço, os dois engatam o conversê. Ela, rabo-de-cavalo no capricho, unhas feitas. Ele, sorriso aberto e alvo, a ouve contar sobre o casório da sobrinha. “Sabe a Martinha, minha prima?”. Sim, ele sabe. “Resolveu beber, maior vexame”. Ele arregala os olhos e se ajeita para ouvir, quando o homem de calça xadrez os interrompe:
– Como eu chego no Banco do Brasil?
O policial desarregala os olhos e prontamente dá a coordenada:
– Próxima rua. Só seguir reto, senhor.
E o senhor vai. “Tomou todas”, ela continua. Ele ri e balança a cabeça, em clara reprovação. “Resolveu fazer discurso na hora do bolo”. A senhora de cachecol verde desvia dos pombos e se aproxima:
– Qual dessas – pergunta, apontando as travessas da praça – é a 24 de Maio?
A dupla está ali não apenas para promover a ordem e a segurança. São policiais, mas pode chamá-los de Waze Humano. Desta vez, é ela que dá a orientação:
– Próxima rua. Só ir por aqui e virar à direita.
A senhora agradece e some na multidão. Aperta o passo e a bolsa contra o peito ao passar ao lado dos pivetes, recostados na vitrine. Medo.
“Foi lá na frente dos noivos e disse que o amor era lindo, papapá. Mas que, pra ela, nunca foi, papapá. É que o marido dela voltou com a ex” – e o policial abre um bocão, disso ele não sabia. Então o rapaz com fones de ouvido:
– Onde tem farmácia por aqui?
Dica fornecida, prosa retomada. “E ela nunca se conformou. Acabou chorando, maior fuzuê, minha sobrinha não sabia onde enfiar a cara, era o casamento dela, poxa!”. Vem a jovem com bebê no colo:
– Moço [primeira cidadã a incluir na pergunta algum vocativo], a Praça da Sé está longe?
E um casal de velhinhos, mãos dadas:
– O Sesc novo é pra lá?
Mas será o Benedito? Eles não têm sossego. Mais fácil controlar um arrastão. Por um momento, compadeço-me; ó povo, deixai os dois fofocarem em paz. Na corporação da maior metrópole do país, uma das maiores do planeta, cabem essas miudezas também. E de que é feita a vida, se não das miudezas?
Mas a Martinha, hein. Alguém precisa orientar essa moça.
Haha! Me senti totalmente inserida nessa crônica Sil! É meu pedaço e dá gosto ver que ele é protagonista de uma história. Show!
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