Dei para enviar mensagens para mim mesma. Pelo e-mail, Messenger, Voxer ou o aplicativo que estiver à mão. Pequenos lembretes, escritos ou orais, para quando a agenda (de papel; sim, eu uso agenda de papel) não está por perto, ideias para textos, links de coisas interessantes para ver depois, não esquecer de fazer isto, aquilo e mais aquilo outro. Entupo minha própria caixa postal. Tenho mais mensagens de mim para mim que dos amigos. Qualquer hora, endoideço de vez e me respondo.
“Olá! Tudo bom? Recebi a mensagem. OK, buscar o resultado da mamografia na sexta”.
“Gostei do tema da próxima crônica, sobre o hábito inconfesso e incontrolável de espiar o que os outros passageiros estão lendo ou assistindo no avião”.
“E aí, o marceneiro foi?”.
Tem gente que fala sozinha com um interlocutor imaginário. Tem gente que fala consigo sozinha. E tem gente que registra o diálogo. Ou seria monólogo?
No mundo caetano – “Quem lê tanta notícia?” – eu me pego doente, padecendo de um não-dar-conta de absorver tanto conteúdo e lembrar do que precisa ser lembrado, ainda que sejam tarefas básicas do dia-a-dia. A escrita, desta vez não por motivos literários, vem para me salvar. Recorro à tecnologia que, nesse caso, assim como a fé, não costuma falhar.
Dou enter na automensagem e logo vejo a notificação: “visualizada”. Posso dormir sossegada. No dia seguinte, checo as mensagens-missões. Se as cumpro, são outros quinhentos.
Por outro lado, mando tantas mensagens para mim, que vou acabar me ignorando, me apagando sem me ler, me bloqueando, tal faço com os spams. “Ih, lá venho eu de novo”.
Triste fim!