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Mussarela ou calabresa

Foto: Ana Cotta/Flickr.com

– Quadrada ou redonda?

Suspiro. É impossível passar muito tempo sem ter que fazer alguma escolha. Em algum momento, lá vem ela. A culpa é da vida, que dá tantas opções. Para tudo e o tempo todo. E os mensageiros delas são inúmeros. Desta vez é a manicure, lixa a postos, aguardando meu pronunciamento. Que é o mesmo de toda sexta-feira: quadrada. Mas com cantinhos arredondados, que é para não quebrar. Normal ou francesinha? Quantas demãos? Óleo secante ou spray? Cafezinho, chá ou capuccino? Saio exausta do salão.

Tantas escolhas podem ser um verdadeiro drama, iniciado antes mesmo do nascimento: normal ou cesárea? Embora, ao menos este, seja resolvido pelos pais. O drama se estende pela infância (a velha brincadeira: pera, uva ou maçã?), está presente na juventude (Direito ou Administração?) e nos acompanha até a morte (sepultamento ou cremação?). Um martírio amplamente registrado na música (“Should I stay or should I go?”), cinema e televisão, quando Sílvio Santos se renderia: namoro ou amizade?

Ao longo de uma vida, serão centenas de milhões de escolhas. Banais, significativas. Simples, complexas. A primeira escolha do dia se projeta no teto do quarto, assim que se abrem os olhos: saltar da cama quando o rádio-relógio apita ou dali a nove minutos, graças ao botão “Soneca” (nunca entendi porque são nove e não dez, muito mais simples). Que podem virar dezoito, vinte e sete, trinta e seis. Nesse caso, tudo poderá estar perdido. E a única opção será rezar para o chefe também ter escolhido a mesma função no seu despertador.

A partir dessa, intermináveis alternativas se apresentam diante de nós, sucessivamente, sem trégua, dia após dia, ano após ano. E, assim, o combo da nossa vida vai sendo montado. Afagar o gato que ainda dorme aos pés da cama ou voar para o banho. Vestido ou calça. Xadrez ou florido. Salto alto ou salto baixo. Lenço ou colar. E a bolsa, que dependerá das escolhas anteriores. Torrada com geléia ou pão com requeijão. Mamão ou abacaxi. Brigar ou não com o filho que enrola para colocar o uniforme, a van já buzinou. O cardápio do dia: frango ou peixe? Aceitar a promoção na empresa e ver seu final de semana encolher. Não aceitar e continuar andando de ônibus.

Débito ou crédito. À vista ou parcelado. Com nota ou sem nota. Molho ao sugo, quatro queijos ou bolonhesa. Açúcar ou adoçante. Água com gás, sem gás, gelada ou sem gelo. Normal ou Sedex. Praia ou montanha. Meia pensão ou pensão completa. Netbook ou notebook. Ser ou não ser. Ligar ou esperar. Quente ou frio. Buscar o resultado no laboratório ou pegar na internet. Álcool ou gasolina. Abobrinha italiana ou brasileira. Garantia normal ou estendida. 110V ou 220V.

Incrível existir cérebro atrofiado, com tanto exercício.

Fazer escolhas é vital. Mas tem horas em que a vida poderia ter só duas opções: mussarela ou calabresa. E pronto.