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Os elefantes

Ilustração: Dawn Hard/Flickr.com

Se você não pode com eles, junte-se a eles. Quem disse isso pela primeira vez sabia o que estava falando.

Passei o final de semana observando os elefantes que apareceram, de uma hora para outra, no meu quintal. Gostaram tanto do pedaço que não estão com pressa de ir embora. Pudera. Esse bicho tem pressa de alguma coisa? Elefante, quem não sabe, é o maior animal que há. Só perde para a baleia-azul. E, como ela, ele é dos mais pesados. Dependendo de onde resolva se instalar, vira trambolho, estorvo. Transtorna a vida e toma tempo – já tentou dar banho em um? Baleia, pelo menos, não precisa de banho.

Armei minha rede ao lado da turma de paquidermes. Só para conhecê-los melhor, entre um quilo de amendoim e outro. Virei freguesa do mercadinho, a dona queria saber o que eu fazia com tanto amendoim. Contei-lhe a verdade, ela riu, hi hi hi. Japonês ri de tudo. Por isso vive muito.

Dei-me conta de que fui eu mesma que os deixei entrar. Elefante em casa é um problema. Problema em casa é um elefante. E eles vieram parar justo no meu minúsculo quintal. Nunca imaginei que coubesse um ali, quanto mais vários. Pois couberam. Eu tenho deixado que os problemas, assim como os elefantes, pareçam maiores e mais pesados do que realmente são. Primeiro aprendizado: elefante cabe em qualquer lugar. Problema também, basta a permissão para que se instale. E um problema, tal elefante, incomoda muita gente.

Também ando dando atenção demais aos dumbos do quintal. Se acho que estão com fome, com sede, calor, lá vou eu cuidar deles. Fazendo isso, deixo-os cada vez mais fortes. Que se virem sozinhos, portanto. Assim como os elefantes, alguns problemas se auto-resolvem. Só precisam de um pouco de tempo. Segundo aprendizado.

Percebendo que algo não ia bem, os amigos quiseram saber o que estava acontecendo. Mostrei-lhes o quintal. “Simples”, disse um eles, “Eu levo um para minha casa”. Outro se dispôs a fazer o mesmo. Em seguida, outro também. Agora restam poucos. Aprendizado número três: dividir os elefantes, assim como os problemas, torna tudo mais simples. Pleonasticamente leve.

Acabo de espiá-los pela janela. Estão dormindo. Quando acordarem, vou lhes contar aquela antiga piada sobre quantos elefantes cabem num Fusca. Quero ver se algum deles vai acertar.