Crônica de minuto para quem tem filhos (não tão) pequenos

Ilustração: Leon Rice-Whetton/Flickr.com

Botei reparo hoje: na nossa estante há um exemplar do livro “A vida do bebê”. Aquele do doutor De Lamare, espécie de bíblia de toda recém-mãe. E que diacho ele faz ali se, em casa, o último nasceu há cinco anos? É o mesmo que manter no armário as roupas de grávida; fundamentais na gestação, elas perdem o sentido depois que o rebento vem ao mundo. (OK, ainda servem por alguns meses.) Do mesmo jeito, o livro, essencial nos primeiros tempos dos pequenos, vai se tornando dispensável, como é de esperar. Cumpriu sua missão – e que missão. Mantê-lo na estante não é exatamente como ter à disposição Grande Sertão: Veredas, A Metamorfose, Memórias Póstumas de Brás Cubas. Nem como prevenção: nunca me ligaram, tarde da noite, pedindo ajuda para um bebê com cólica. É o tipo da publicação que carece de rodízio, precisa circular, ir para os pais da hora. Sem esquentar lugar em casa de criança crescida.

Fato: no desafiador jogo da maternidade, mudei de fase. O de sete já dorme fora, a de quatro acessa o You Tube sozinha. A linda bebê da capa do livro já está na puberdade. O dito cujo fará mais sentido em outras estantes. (Quem o quiser de presente, é só dar um alô.)

Fato dois: se vasculhar bem, é capaz de eu encontrar, nas entranhas da casa, objetos que marcaram os primeiros meses, ou anos, dos meus filhos. E que não fazem parte do rol das necessárias e saudáveis recordações, como o primeiro uniforme do Cruzeiro e a primeira Barbie. Culpa da distração, esquecimento ou da roda-viva do dia-a-dia, que engole até a elementar tarefa de reciclar as coisas, se acumulando aqui e ali. Ou, simplesmente, por apego. E não tem pais que resistiram o quanto puderam ao desvencilhamento do cadeirão, das mamadeiras, do peniquinho, das colheres na hora das refeições? Como se – clichê, eu sei – os filhos fossem seres da terra do nunca.

Eu poso de mãe moderna e isso e aquilo, mas terá o tal do livro na estante provado, por a mais b, que não é bem assim? Oh céus.

Nota: e o meu exemplar d’A vida do Bebê agora está em terras cariocas. Foi pelo Sedex para o simpático leitor que comentou aí embaixo. Tomara que, depois que a filhinha dele crescer, o livro vá igualmente parar noutras estantes, onde possa continuar sendo útil aos papais e mamães.

6 comentários em “Crônica de minuto para quem tem filhos (não tão) pequenos

  1. Olá,

    Minha filha nascerá em novembro e gostaria de ler este livro. Vale a pena?

    Se quiser fazer uma doação. rs

    Obrigado.

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  2. Eu tenho em casa um exemplar da vida do bebê… que minha mãe comprou quando eu nasci! Dando os devidos descontos, ele foi útil quando minhas filhas nasceram, se bem que o bom-senso norteava a leitura. As edições mais recentes devem ser bem melhores.

    Também guardei algumas roupinhas delas como lembrança, junto com roupinhas minhas e do maridão, guardadas pelas respectivas mamães.
    Antes que me pergunte, não sou saudosista, mas gosto de guardar lembranças selecionadas e especiais… coisas de taurina, hehe…

    Beijos!

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  3. kkk, eu tenho um filho de 5 anos e “A vida do bebê” do De Lamare ainda está na estante, esperando não-sei-oquê para ser desovado em lugar mais necessário. Mistérios da maternidade e da tentativa de reter o tempo, quem sabe…
    Abç
    Marisa

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  4. Ai Sil, so não te digo para mandar o livro aqui pra casa, porque, de verdade, eu acho que não vou precisar. Digamos que a bebê que vem aí, será criada conforme cartilha usada com o gugui, ou seja, vamos levando e levando. Dizem q segundo filho é meio de borracha e que as neuras com o primeiro já nem existem mais…. vamos ver.

    beijos

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  5. Sil, perfeito!!!!!
    Como sempre!

    Eu às vezes me deparo em casa com algumas destas preciosidades … lembro dos pequenos, ainda mais pequenos, e junto com saudades, orgulho, guardo de novo no mesmo lugar.

    Tenho também aqueles que não me desfaço de jeito nenhum … o último vestido que a minha mãe costurou pra Natália, por exemplo.
    Nem sei o que vou fazer com ele, mas este eu já falei que não dou pra ninguém … ou quando empresto, aviso que quero de volta 😉

    Parabéns pelo post mais uma vez!

    beijão
    Rose

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  6. Alguém me deu esse livro um dia. Eu nunca li. Aprendi tudo na prática. E aqueles brinquedos que ficavam esparramados pela casa, agora se esparramam pelos meus momentos de deliciosas recordações. Obrigada por mais este.
    Te adoro, minha amiga.

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