Ilustração: Abhi/Flickr.com
Qual foi a última vez que você disse não? Mas não em uma frase qualquer, do tipo “Não vi a novela ontem” ou “Você não pode ir brincar lá fora”, nem “Hoje não posso sair com você”. Fáceis demais, essas.
Quero saber é daquele não proclamado em respeito à sua opinião, à sua vontade, aos seus limites. O inesperado não, tomando meio mundo de assombro, quando todos juravam que seria (mais) um sim seu. Um não firme, sem vacilo e, contudo, cheio de carinho (ou nem tanto). O não repleto de coragem e vazio de medo. Nana-ni-na-não, dito com propriedade a alguém que se acostumou demais ao sim. Um não cinematográfico, com direito a um ou mais queixos caídos lhe assistindo. Vale até aquele não de muitos decibéis em plena madrugada, marcando de vez a aurora da sua vida.
Confesse: faz tempo.
O sim é irmão mais velho do não. Irmão de olho azul: a gente insiste em achá-lo mais bonito e mais simpático que o caçula. E o não, que não é o primogênito, nem tem olho claro, nem é tão legal, fica lá, negado num canto da vida. Tímido, demora a entrar em campo, e geralmente só o faz quando a coisa está feia mesmo. E às vezes pode ser tarde. É do tipo que desconhece seu poder, até mostrar que sabe fazer gol, virando o jogo nos quarenta e quatro do segundo tempo. É aquele sujeito que tem umas idéias diferentes, mas que, com jeitinho, aprende a se impor e passa a ser respeitado na roda.
Todo não, assim como todo sim, tem seu preço. A diferença é que o não costuma ser pago à vista, enquanto o sim acaba sendo quitado em prestações, geralmente em mais vezes do que se pretendia. Um costuma ser mais em conta que o outro, embora isso dependa da lógica do mercado, que às vezes não tem lógica alguma.
É o sim quem torna oficial – e presunçosamente eterno – um amor. Mas é o não quem decreta seu fim. O sim é quase uma promessa de vida no coração. O não são as águas de março que fecham o verão. Juntos, os dois movem o mundo.
Na semana ainda na metade, pense na pergunta que a primavera faz. Vale tudo para descobrir com quantos nãos se faz um sim, e quantos sins estão por trás de um bom não. Só para saber com qual dos dois irmãos você tem andado mais. Pelo sim, pelo não.
Que texto interessante!!!! Amei.
Parabéns.
Beijão!
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Hoje mesmo, li um texto da (grande) Lya Luft na espera pelo dentista. Era sobre os nãos que os pais NÃO dão em seus filhos e várias outras coisas interessantes. Lembrei de você, (grande) Silmara, e a pergunta da primavera: sim ou não?
Abraço bem grande!
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Silmara,
Minha mãe sempre nos ensinou (ou tentou), a sermos firme numa e noutra situação. Ela dizia, “minha filha, diga sim, quando for sim e não, quando for não”. Não sei se me fiz entender, mas o que ela quis dizer ra pra não vacilarmos no momento de dizer um “sim” ou um “não”. Porque cada um tem a sua hora, e é importante dizermos ambos com a mente firme e com o coração aberto. Senão, quem mais irá sofre, seremos nós mesmos.
Percebo que a medida que crescemos e envelhecemos temos mais dificuldades em dizer não. Lembra de quando éramos crianças e que o “não” saia tão facilmente de nossas bocas, para desespero de nossos pais?
Pois é, por mais paradoxal que isso seja, tem horas que devemos voltar a ser crianças justamente para termos coragem de dizer aquele NÃO sonoro, cheio de significados, e que só as crianças tem a ingenuidade de dizer.
bj
Ivana(tete)
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ótimo texto!!! Nossa quantos “nãos” me arrependo de não ter dado, não sabia e na maioria das vezes isso me fazia mal. Mas cada vez mais ando exercitando isso. No início batia uma culpa, mas agora já está bem melhor.
beijo
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Oi Silmara, começei a acompanhar teu blog através dos teus cometários no Blog do Adriano Silva, que é um amigo . Acabei anotando o teu e achei bem interessante os temas relatados e narrados…parabéns…
abraços Izaura Porciúncula
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Ai, caramba, como é difícil dizer não! Um nãozão bem redondo, seguido de ponto final. Precisava usar um desses com mais frequência…
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Perfeito, mais uma vez.
A propósito, não sou primogênita e nem tenho olho claro 😦
hahaha
beijo beijo!
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O meu irmão caçula é pouco usado. Mas, o exercício o fará mais forte e meu sopro de vida será quando eu me acostumar a dizer não. Não um não qualquer, mas um não sincero, sem culpa ou coisa que o valha. Quero vê-lo de frente e simplesmente não temer a perda ou o que minha imaginação ousa criar para que ele não se faça presente. Quero aprender a dizer não porque o sim muitas vezes se faz presente para agradar a todos.
E com certeza vou refletir sobre os sins dentro dos não e vice-versa.
Adorei o texto!!!!!
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perfeição de texto! realmente, faz mto tempo que não digo um NÃO.
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Bravo!
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Conta aí, vai… Vc me conhece, pode falar. Rs.
É sério, você não faz idéia do quanto tudo isso que você falou faz sentido pro momento em que estou. O não pros outros é um sim pra mim. E eu tbm mereço uns sins de vez em quando, tenho descoberto, sabe?
E vc, claro, com suas palavras, dá sempre um empurrãozinho.
Obrigada, sempre. Beijos!
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PQP que reflexão foda!!! Parabens!
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Sim, para suas palavras, pra maneira delicada que vc tem de nos provocar uma auto análise, nem sempre confortável, hehehe, mas necessária… Não pro comodismo de alguns “sins” fácéis. Minha mãe sempre diz uma fraze que acho ótima… “prefiro ficar vermelho na hora do que amarelo pro resto da vida”… parece engraçado, mas um não ou ou sim na hora certa, pode nos poupar de um longo arremendimento….
Um beijinho, Sil. E parabéns mais uma vez!
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Como sempre, o máximo… mais um daqueles que eu gostaria de ter escrito.
beijos
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Sil, nem preciso dizer que AMEI esse post. Você disse simplesmente TUDO!
Inclusive, peço sua licença para colocar esse texto no meu blog, com os devidos crétidos, é lógico!
O tempo nos ensina a dizer “não”. Alguns são bem difíceis, mas extremamente necessários. Mas enfim, a vida nem sempre é um mar de rosas, ou quase nunca eu diria!
Um beijo grande!
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A primavera trouxe consigo uma mudança em meus dias. Decidi dizer sim pra mim. Claro que está doendo todos os outros nãos que tive que distribuir. Mas acredito que no final da estrada terão valido a pena.
Beijos primaveris!
Layla Barlavento
http://culpadowalter.blogspot.com
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A gente insiste em querer agradar a todo mundo… Lembra da musiquinha do Kid Abelha “Dizer não é dizer sim/ saber o que é bom pra mim/ não é só dar um palpite/ é mostrar o meu limite”.
Desenterrei, fato. Mas não é bem por aí?
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