Álbum de figurinhas

galeria disney 1

Luca está colecionando o álbum da Copa do Mundo. O avô ficou sabendo e reforçou o caixa do rapazinho. Agora, a banca de jornal perto da escola virou parada obrigatória. Ele conta: serão 32 seleções, 700 figurinhas. Pra que tanto futebol, meu Deus?

O único álbum que colecionei foi Galeria Disney, nos anos 70. Nele desfilaram quase todos os personagens que fundaram a minha infância (muitos nem da Disney eram). Tio Patinhas, Bela Adormecida, Branca de Neve, Donald, Peter Pan, Wendy e os meninos perdidos da Terra do Nunca. Matinhos e Duquesa dos Aristogatas, Professor Ludovico, João Bafo-de-Onça, Sininho (que eu me recuso a chamar de Tinker Bell). Pateta, Clara Bela, Bambi, Dumbo. Madame Min e Maga Patalójika, as bruxas descoladas. E tantos outros.

Levei meses para completá-lo, o orçamento era curto. Meus amigos também. A gente conseguia uns pacotinhos por semana e olhe lá. Para ter direito a figurinhas extras, só tirando ótimo na prova (prêmio) ou ficando doente (consolo na hora de tomar injeção). Fora isso, o negócio era juntar um dinheirinho aqui, outro ali, economizar no lanche e caprichar no escambo, trocando as repetidas.

Montar álbum era – deveria continuar sendo – exercício de paciência. E aquela figurinha rara, que nunca saía? Definição de frustração: desejar o Urso Puf (rebatizado para Pooh, efeito da globalização) e vir o Mogli, que eu já tinha três. Resignação: semana que vem, quem sabe?

Álbuns são importantes. Com eles, temos o que amamos sempre à mão. Contemplação ou pura forma de controle?

Enquanto Luca vai colando fragmentos da seleção da Tunísia, da República dos Camarões, da Suécia, eu também sigo, diariamente, colando figurinhas no meu álbum particular. Aquele, iniciado no dia em que nasci e em constante formação.

Em recordações autocolantes, vou construindo minha própria galeria de personagens importantes: antigos professores, amigos de ontem, de hoje e os que nunca mais vi. Vizinhos (os legais e os esquisitos também), todos os chefes que tive. Pai, mãe, irmãos, primos, tias e avós. A centena de bichos que já viveram comigo ou passaram pela minha vida. Meu fiel companheiro. E os filhos que, tal as figurinhas, também vieram em pacotinhos fechados; só fui sabê-los depois que abri. São minhas figurinhas carimbadas.

Ontem Luca quis me testar no jogo do bafo. Eu era razoavelmente boa nisso, quando criança. Na hora do recreio virava um tanto. Sentamos, eu e ele, no chão da sala. Que fiasco: não só não virei uma sequer, como fiquei com a mão em frangalhos. Perdi as manhas. Ele deu uma gostosa risada de deboche. Pronto: mais uma figurinha no meu infinito álbum de memórias.

Um comentário em “Álbum de figurinhas

  1. Nunca fiz um álbum em criança. Nem fui de comprar pra meus filhos. Acho que se fizeram 1, foi muito. Sempre achei caro e uma enganação, dá-lhe figurinhas repetidas! rs Fui boa tb no “bafo”.

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