Sentei-me para meditar, o gato veio. Aninhou-se feito esfinge no tapete ao meu lado, olhinhos semicerrados, fixados num ponto aleatório da persiana. Se queria meditar comigo? Não. Queria ensinar-me. Gato é o melhor professor de meditação que há. Gato é o pai do mindfullness.
Mestre em lidar com as distrações, ele mostrou-me a técnica. Detectara um ruído na rua; ajustou a orelha direita a fim de identificar a origem e, se necessário, agir. Não era nada. Orelha e atenção, por segundos dedicados ao que parecia ser apenas um freio de bicicleta desregulado, retornaram ao estágio anterior. Seguimos na meditação – mais ele que eu.
Gato, pensa que não sei?, é capaz de meditar direitinho porque não tem to do list para dar conta. Não tem que pensar no almoço, tampouco na janta. O rango está garantido, é só miar ao lado da vasilha. Também não tem que se preocupar em agendar a fatura do cartão no bankline, aonde foi parar o token? Nem com o passeio da escola das crianças amanhã, é para levar filtro solar e repelente?
E, mesmo se tivesse lista de afazeres, o gato continuaria craque na arte da meditação. Porque é bicho que se dedica a cada um dos itens com atenção plena. Se está comendo, está comendo. Enquanto come, não fica pensando em tomar o solzinho da manhã na varanda. Se está tomando o solzinho da manhã na varanda, não lhe ocorre brincar com o barbante. Se está brincando com o barbante, não lhe passa pela cabeça caçar passarinho. Se não está fazendo nada, é nada mesmo.
A humanidade que se cuide, os gatos já encontraram a paz mental. O nirvana é deles.
Ou nada disso, e eles são só hábeis dorminhocos.
Ahhh! E a gente insistindo em fazer 25 coisas ao mesmo tempo né? E, na verdade, não fazendo nada até o fim, muitas vezes.
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Ommmm! O gato sabe tudo, né? A crônica ficou bacana, mas e sua meditação, aconteceu? beijo pra vc.
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Hehe…é isso mesmo, eles nos ensinam a estar presente no momento presente. Ah…e o uso correto dos sentidos do qual somos portadores e muitas vezes não fazemos uso.
Adorei o pequeno texto!
Também reparo muito nos meus mestres bichanos.
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Haha! No final você quase acertou: sim, somos hábeis dorminhocos; mas não há nada de “apenas” nisso!! 8^) #nhé!
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