No rádio, a moça do comercial me encosta na parede, sem dó: o que estou esperando para ligar já e comprar um pacote de viagem para Cancun com tudo incluído por apenas dez de seiscentos e cinquenta reais?
Eu vou lhe dizer o que estou esperando, meu bem.
Estou esperando o gato terminar de lavar a pata para estender a cama; não se deve atrapalhar um gato em sua toilette (ainda que feita sobre sua cama). Estou esperando o técnico vir consertar a geladeira. Estou esperando o sinal da Net voltar. Estou esperando o terceiro olho brotar em minha testa. Estou feito o Pedro pedreiro penseiro, do Chico Buarque, esperando o trem.
Viver é esperar. Aqui ou em Cancun.
Estou esperando dar meio-dia para servir o almoço para as crianças. No caminho de casa até a escola, dos onze semáforos, talvez tenha que esperar uns nove (ou dez) abrirem. Na tarde de horas comprimidas, espero conseguir zerar pelo menos dois terços das pendências do dia. Enquanto espero a reunião pelo Skype, o pó de café, vestido de coador, espera pela água quente.
O tempo é uma máquina de esperar.
Eu espero até às cinco e meia para ir buscar as crianças. No caminho de casa até a escola, dos onze semáforos, talvez tenha que esperar uns dez (ou onze) abrirem. Esperei, pelo tempo justo, um filho e uma filha saírem pela minha barriga. Agora espero todos os dias um filho e uma filha saírem pelo portão.
Quantos semáforos existem em Cancun?
A verdade é que eu não sei o que estou esperando para comprar o pacote de viagem com tudo incluído. Se nem sei o que estou esperando para arrumar meus armários, e assim livrar-me das tranqueiras físicas e mentais que entulham as gavetas e as ideias. Se nem sei o que estou esperando para escrever o livro sobre os diários de minha mãe. E outro, sobre as formigas daqui de casa. E outro, com as crônicas deste blog. Se nem sei o que estou esperando para começar a ter aulas de piano.
Não sei onde estão todas essas respostas.
Em Cancun, talvez.
Esperamos muito de Cancun
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Não espere sentada. Faça as malas e vá pra Cancun. Também nunca fui lá, filha foi e amou. De quebra, tá um pulinho em Miami. rs
Também estou esperando o livro de crônicas.
Beijo, Silmara.
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“dá um pulinho’, quis dizer.
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Muito bom o texto!
Um abraço.
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Eu estou esperando o livro das crônicas deste blog ….. de vestido novo no lançamento!!!!
Beijos e boa sexta, Sil!
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Dois terços das pendências?… rss 😉
Gostei do texto, blogueira! Fez valer a espera! Até.
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