Diário de uma aparelhada, 1ª semana

Segunda-feira

Enfim, botei aparelho nos dentes! Não sei por que não fiz isso antes. Há tempos que isso deixou de ser tão caro. E não tem mais aquele preconceito de que é coisa para adolescente. Um sorriso bonito está ao alcance de todos. Assim que cheguei do dentista, tive um bom presságio para inaugurar minha nova fase de vida: um passarinho veio cantar na varanda. O doutor Claudio falou que talvez eu tenha que usá-lo por uns três anos. Não há pressa. Três anos passam tão rápido.

Terça-feira

Hoje o aparelho está incomodando. Nada demais, mas dói na hora de mastigar. A boa notícia é que ando menos gulosa. O aparelho vai me ajudar a entrar num 38, escreve aí. Também não dá para roer o esmalte, como eu fazia. Tudo tem um lado bom. Gastei uma fortuna, adquirindo o arsenal ortodôntico: escova especial, refil para escova especial, escovinha para limpar entre os dentes, refil para escovinha, passador de fio dental, cera para os braquetes não machucarem a boca por dentro. Nunca tinha reparado nessa seção nas farmácias. Só despesa. E dor.

Quarta-feira

Descobri que não posso mais comer maçã como sempre fiz, às bocadas. Preciso cortá-la em pedacinhos, senão arrebento o aparelho. Parece que tem sempre uma maçã protagonizando a história da humanidade. Se Eva usasse aparelho, pode crer, não estaríamos aqui. O passarinho voltou. Fez um monte de cocô na minha varanda, o infeliz.

Quinta-feira

Os braquetes já fizeram um bom estrago. Vou mudar meu nome para Silmarafta Franco. Ou Silmara das Dores. Meu status agora é: em um relacionamento complicado com o fio dental. Se tenho compromisso depois do almoço, já ligo avisando que vou atrasar. Quando assumi os cabelos brancos, as pessoas falavam comigo olhando para a minha testa. Agora, de aparelho, as pessoas falam comigo olhando para a minha boca. Estou pensando em vender espaço publicitário na minha cabeça.

Sexta-feira

Passo os dias na base de sopa e mingau, tenho calafrios só de pensar em morder pão Pullman. Aquele passarinho idiota voltou a cantar na varanda. Ele canta, claro, porque não tem dentes. Da próxima vez, solto os gatos. Semana que vem tem consulta. Preciso ver com o doutor Claudio quando é que tiro esta porcaria.

8 comentários em “Diário de uma aparelhada, 1ª semana

  1. Silmara querida,

    quanto tempo…… Ainda se lembra de mim??? Pois eu… nunca te esqueci.
    Me lembrei de você agora à pouco. Lendo o blog da Consuelo Blocker, ela escreveu uma “Carta para Allegra”, sua filha que esta indo para
    a universidade. E o que me meio à mente imediatamente??? A inesquecível “Carta para Letícia”. Procurei nos meus arquivos do pen drive.
    Não encontrei. Que absurdo. Vim correndo para o Fio da Meada. Ufa!!! A carta continua aqui. Primeiro, salvei-a cuidadosamente no meu
    pen drive. Depois, tomei a liberdade de mostrá-la para a Consuelo, contando que foi escrita por você. Bom, as dificuldades daqueles
    tempos, deixa pra lá. São emoções que só quem viveu comigo, como você, sabem.
    Me emocionei mais uma vez lendo a carta.
    Querida, nossa família se completou. Exatamente como você escreveu no fim da carta. E Letícia esta aprendendo a ler este ano.
    Planejo dar à ela de presente de aniversário no próximo mês (dia 29/09) esta cartinha. Ela já esta pronta para lê-la sozinha.
    E então, o ciclo se fechará. A Letícia que lê a carta com a família completa.
    Acalentei tanto este sonho. E você o construiu comigo.
    AInda que o tempo passe, e ele passa…… você sempre está no meu coração. É a poesia, a beleza e a docura que estiveram presentes em
    um momento tão intenso e difícil da minha vida. Mas, ao mesmo tempo, desafiador. Como desafiador é ter um filho.
    Letícia cresce. Vai completar seis anos. É uma menina de personalidade forte. Inteligente, pespicaz. Tem um amor por mim que nunca
    imaginei que alguém teria. E ama nossa família incondicionalmente.
    Afirma categoricamente que quando crescer vai ser pianista. Estuda música desde os três anos.
    Este ano, entrou para o coral da escola.
    E me pediu para que o tema do seu aniversário seja música.
    É uma luz linda que encanta a todos. Chama o avô de Dumbo. Planta flores com a avó. E faz panquecas doces comigo.
    Já tentei convencê-la a comer morangos com mel. Mas ela prefere com leite condensado…..rs..rs
    Enfim… passados seis anos, cá estamos nós. Como você me dizia “as abóboras se acomodaram”. E outras vêm, para serem acomodadas.

    E você, como està?? Conte-me dos seus.

    Muitos beijos.

    Ana Paula.

    Curtir

  2. Silmara querida, te entendo totalmente. Usei aparelho fixo por 5 anos! E, sinto dizer, mas você terá bastante assunto para crônicas. Fico feliz, porque daremos boas risadas, e seu sorriso ficará ainda mais bonito. Obrigada por compartilhar de forma tão bem humorada e inteligente. Boa sorte!

    Curtir

  3. Acabei de tirar o meu, depois de 3 1/2 anos! Grande alegria! Passei por todas estas fases e mais uma: raiva de mim mesma por ter começado isso tudo. Infelizmente, não perdi nem 100 g. A dor passa e a gente volta a comer. No final, estava pouco me lixando para a comida presa nos dentes!
    Mas a vitória é certa e o resultado compensa tudo isso. Beijos e paciência!

    Curtir

  4. Se for dar ótimas crônicas, não tire o aparelho tão cedo! rs Vai se acostumar, por mais que pense que não. tá ruim? Espere depois da primeira apertada nele…rs (tomara que não! rs)
    Beijo e “guenta” firme, afinal colocou pq quis. E o resultado compensará a dor, certeza!

    Curtir

  5. Quase mijando de tanto rir kkkkkkk
    Detalhe: meu sorriso também é metálico e graças a Deus e a minha ortodontista, tiro o aparelho até dezembro. Ufa!! Nessa brincadeira macabra passaram-se quatro anos. Sil, na sincera, os quatro anos voaram e o sofrimento nem foi tanto assim. A gente se acostuma com a dor. Beijos com estalos de metal

    Curtir

  6. Hahahaa relaxa Silmara, é só a fase inicial de adaptação. Eu estou com o meu há quase dois anos e muito satisfeito com os resultados.

    Curtir

Quer comentar?