É estar na aula de yoga, na meditação ou em qualquer outra atividade que envolva exercícios de relaxamento, e chegar a hora em que todos são convidados a fechar os olhos para que os meus, insubordinados, façam justamente o contrário, postando-se atentos a tudo ao redor.
Nessa hora, secretamente, espio os outros em suas imobilidades, tão impossíveis para minha condição humana. Confiro quem alcançou o nirvana e quem está quase lá. Reparo nas roupas, nos cabelos, nos pés. Não raro, detecto meias sujas, furadas. Invento histórias de vida para todos, arrumo-lhes amores, crio profissões e manias, atribuo personalidades.
Não tenho déficit de atenção, devo ter superávit de imaginação. É grave, doutor?
Eu deveria estar aquietando a mente, mas os pensamentos resolvem dar plantão. Enquanto ouço as instruções, repasso as pendências do dia, investigo as unhas, as mãos, preciso de uma esfoliação. Lembro dos e-mails que tenho de mandar e dos filmes que quero assistir mas preciso ver quando vai dar porque no próximo final de semana vamos viajar e no outro tem aniversário do amigo do filho será que ele gostaria de ganhar quebra-cabeça ou talvez prefira um livro sobre dinossauros tem um bem bacana na Cultura.
Reverta a distração; foco, Silmara!
Fecho os olhos, ajeito-me na posição, respiro longamente. Agora vai. Trinta segundos depois, o olho esquerdo parece não me pertencer. Mantém-se semicerrado, aquele vaso é novo. Que camisa horrível, a do mocinho. Acho que vou passar na padaria antes de ir para casa. Francês ou caseirinho?
E não é privilégio só da yoga ou da meditação. Nos velórios, é alguém sugerir a derradeira oração pela alma que se despede, “Vamos fazer um círculo e dar as mãos”, e dou início ao escaneamento dos presentes, dos cabelos às barras das calças, em alta resolução. Examino lordoses, calculo índices de massas corporais, repagino layouts.
A maior vantagem de ser gente é pensar no modo “mute”.
Estou ciente de que, desse jeito, não pode haver progresso na minha busca de paz interior ou do corpo alongado. Sou a desconcentração encarnada, um arremedo de ser iluminado, caso perdido.
Meditarei a respeito.
ps: esta crônica era para ser publicada amanhã, sexta, como de costume. Mas eu me enganei bonito, e acabei postando hoje. De modos que, crônica nova, só na terça que vem. Se eu não me enganar de novo, claro. Haja meditação.
Vc vai pro céu de trem bala por fazer a gente rir TANTO! Amo, me identifico com algumas coisas… a Isa, minha irmã tbm…- é com ela que compartilho seus textos em voz alta e risadas galhofantes – via skipe!
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HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH IM-PA-GÁ-VEL.
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Sofro do mesmo mal. Tentando domá-lo, quiçá…
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Eu fico tentada a deixar os olhos semicerrados, mas tenho receio de que a pessoa que está no comando veja e me repreenda! rs
Beijo!
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Adorei o superávit de imaginação… revisão de conceito… lendo fiquei imaginando vc em profunda meditação, mas como eu falo… já medito o tempo todo…na vida tudo é relativo… beijossssssss
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para a minha primeira leitura do dia, vou ter muito pra medita o dia todo… pena que vou ter um tempinho pra sentar e fechar os olhos, vou pensando e imaginado tudo entre uma coisa e outra … Beijinho Sil, Você é de mais!
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