Doze profissões que não existem (mas deveriam)

Para o ofício tradicional e estabelecido, como de médico, engenheiro, vendedor de pastel, arquiteto, motorista de ônibus e professor, o mercado é garantido.

Algumas profissões, no entanto, ainda não foram inventadas. O motivo é desconhecido, posto que trabalho, para essas, também jamais faltaria. Algumas delas:

Organizador de fotos feitas no celular. O clique ficou tão fácil que, um belo dia, você se dá conta: mil e quinhentas fotografias ocupam a memória do seu aparelho. Há várias repetidas. Outras tantas são um festival de enquadramento e foco ruim, gerando um lixo inarquivável. No meio, as que as crianças tiram: do rabo do cachorro, da parede, do sapato no chão. A essa altura, a triagem se torna hercúlea. A promessa de, um dia, colocar a coisa em ordem é sistematicamente adiada. Até que a memória (do celular) fica cheia e a única alternativa é copiar tudo do jeito que está para um pendrive, um tablet, um notebook. Você, eu sei, ia querer chamar um organizador assim.

Gerenciador de e-mails. De nada adiantou criar dúzias de marcadores – “Escola das crianças”, “MBA”, “Piadas” – se não é possível ler as cento e cinquenta mensagens que aterrisam diariamente na sua caixa postal. É preciso um especialista para ajudar a discernir o que fica, o que vai embora, o que deve ser respondido e quando. Você também ia querer chamar um.

Recolhedor de Lego. Quem tem criança em casa sabe o valor que esse profissional teria.

Arrumador de tupperware. Quem tem armário cheio deles, mas nunca sabe onde está a tampa de cada um, também sabe o valor que esse profissional teria.

Guardador de compras de supermercado. Depois de um tira-e-põe sem fim das mercadorias, da gôndola para o carrinho, do carrinho para a esteira do caixa, da esteira do caixa para as sacolas, caixas ou sacolinhas pláticas que sejam!, das sacolas, caixas ou sacolinhas plásticas de volta para o carrinho, do carrinho para o porta-malas do carro, do porta-malas do carro para o carrinho de supermercado do prédio, do carrinho de supermercado do prédio para a mesa, pia, bancada, cadeira ou qualquer outra superfície vaga na cozinha, e dali para os respectivos armários… simplesmente não saberíamos como foi possível viver tanto tempo sem esse profissional.

Esperador do técnico da TV a cabo. Você liga para agendar uma manutenção e o máximo que consegue saber é o período em que o serviço será feito: matutino ou vespertino. Considerando que a manhã útil dura quatro horas, assim como a tarde, o negócio será recorrer aos seus préstimos, se não quiser correr o risco de ficar em casa à toa. Porque ficar vendo TV enquanto se espera, que é bom, necas.

Intermediador de bate-boca em call center. Com ele, ninguém mais passaria nervoso na hora de contatar a operadora de celular ou o plano de saúde para tentar resolver um problema.

Novos sindicatos e conselhos regionais nasceriam, para regulamentar a emergente e fabulosa demanda. Para cada nova função, um curso técnico ou uma graduação. Os benefícios para a sociedade, a longo prazo, seriam incalculáveis.

Outras profissões, se não fundamentais para o dia-a-dia do cidadão comum, também seriam de grande valia para a humanidade. Como o fazedor de cócegas. Ele chegaria para o cliente e diria: “Bom dia, seu João! Onde vai ser hoje, na barriga ou na sola do pé?”. Há quem começaria a rir antes mesmo de a sessão começar. Um santo remédio para gente azeda em geral.

Assim como o moço da cosquinha, outras especializações despontariam: o matador de saudade alheia, o esticador de horas, o mostrador de coisas-bonitas-no-meio-da-rua, o exterminador de maldades. Com a atuação deles, não haveria motivo para greves ou protestos. Essas ocupações trariam felicidade plena a contratado e contratante, patrões e empregados. Os sindicatos seriam desnecessários. E os conselhos regionais, ora entupidos de papéis, teorias e processos, virariam cafeterias, para aproveitar o espaço e os funcionários.

Hei de viver para ver.

9 comentários em “Doze profissões que não existem (mas deveriam)

  1. Sil (toda íntima rsrsrs), fiquei sabendo de sua página pelo site da Cris Guerra, e assim como o da Cris, visitá-lo se tornou um momento leve e prazeroso no meu dia… bom demais ; )

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  2. Ah, Silmara, que maravilha de time profissional! Se eu tivesse grana, contrataria vários deles. Talvez eu possa escrever o segundo volume do meu livro com informações de sua crônica, que tal?
    Colocaria na lista o ‘coçador de costas alheias’, muito útil a qualquer hora, principalmente enquanto a gente dirige!

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  3. Sou expert em organizar fotos no celular e principalmente guardar compras. Nas horas vagas, ainda escrevo umas “croniquinhas” por aí.
    Que tal?
    Adoooooro suas invenções. “eu me si divirto”.
    Huck

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  4. Prá onde mando meu CV como fazedora de cócegas? Meu menino pode ser mostrador-de-coisas-bonitas-no-meio-da-rua. Salário?

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