Crônica (amanhecida) de quinta

Arte: Johanesj

Para escrever uma crônica de quinta, é razoavelmente fácil. Recorra à formuleta: um personagem comum, uma ideia comum, um cenário comum. E conte tudo de um jeito comum.

Para escrever uma crônica de quarta, será suficiente acrescentar aos elementos acima uma dose de bom humor. Não há quem não sinta prazer ao ler uma coisa engraçada. “Porque de amarga, já basta a vida”, diria algum melancólico de plantão.

Para escrever uma crônica de terceira, ou terça, siga a receita: junte os itens anteriores (não esqueça o bom-humor) e some uma pequena porção de opinião. Opinião sincera, do coração, espalhada pelos parágrafos ou concentrada em um só – vai de gosto.

Para escrever uma crônica de segunda, o processo torna-se ligeiramente complexo. Além do já mencionado – bom-humor e opinião – , faz-se mister uma pitada de nostalgia. Enfie no meio do enredo uma memória infantil, uma lembrança doce, algo que acorde em seu leitor uma sensação adormecida – e querida.

Agora, para escrever uma crônica de primeira, ah. São outros quinhentos. Há que se eleger um personagem comum e fazer dele uma celebridade. Escolher uma ideia comum e vesti-la elegantemente. Definir um cenário comum, mas desses que enchem os olhos de tanta boniteza. Preferencialmente, fale do mesmo “comum” que seu leitor conhece e vive diariamente, mas que não teria condições de descrever tão bem. Pode-se, até, contar tudo de um jeito comum. E, nesse caso, bom humor, opinião e nostalgia nem farão falta.

Difícil mesmo é escrever uma crônica de sexta.

3 comentários em “Crônica (amanhecida) de quinta

  1. Lendo tuas palavras fiquei à vontade para chegar aqui.
    Parabéns pelo alento que deste às pobres “engatinhantes nas letras” como eu e atrevidas em tentar escrever como gente grande!
    Passei a seguir-te.
    Abraço,
    Beth

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