Peço pastel de queijo – “Bem branquinho, por favor” – e suco de laranja. Com gelo, sem açúcar. A antiga barraca do parque não é das mais asseadas, então evito os passeios do meu olhar detetive. Pago adiantado. Na carteira, sobra o troco miúdo; esqueci de sacar e não há notícia de caixa-eletrônico por perto. Depois do advento do cartão de crédito, é sempre assim.
O vinagrete fresquinho lembrou a reportagem da TV, ensinando não encostar a colher no pastel, porque ela é compartilhada com centenas de pastéis e, consequentemente, centenas de mãos e bocas. Orientação impossível de acatar, o bacana é botar o vinagrete lá dentro. Mando a lição às favas, “o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraída”. Amém.
Encerro o pastel, mais um? Penso nos trocados, não estou certa se são suficientes. Gastronômica ironia do destino: faltam cinco centavos para o pedido. Cinco! Agrupo, por valor, as moedas no balcão e conto de novo, bem devagar. A mágica não se faz, continua faltando. Ensaio reivindicar fiado, pedir desconto à vista, sugerir anotar na caderneta. Fico sem jeito, constrangida por não ter disponível dindim para um salgado. Nessa hora, tanto faz se falta pouco ou muito. Além do mais, o dono do lugar, com semblante de poucos amigos, há de ficar bravo. “Se cada cliente resolver fazer isso…” – eu sei, eu sei.
Vasculho todos compartimentos da bolsa. Naquele dia, cinco centavos representavam a diferença entre sonho sonhado e sonho realizado, barriga cheia e barriga, digamos, quase cheia. O valor de um dinheiro está na importância que lhe é atribuída. Por que não pedi guaraná, mais barato, em vez de suco?
Limpo os dedos no guardanapo, faço bolinha, acerto o cesto. O jeito é passar vontade e ir para casa. Ou esperar a vontade passar. Tomo o rumo do estacionamento, na esperança de que tenham instalado ali, nos últimos dez minutos, um banco 24 horas. O guardador de carros, quando viesse pedir o seu, acreditaria se eu lhe dissesse “Hoje não tenho”?
Paulistano, reza a lenda, pede “um chops e dois pastel”. Naquele dia eu, que desejei pastéis no plural, teria que me contentar com pastel no singular.
Ao entrar no carro, o lampejo. Estico o braço no nicho do console e lá está ela, reluzente, única. Troco do pedágio ou compaixão de algum anjo dado a fazer mágica. Nunca imaginei ser tão feliz ao ver a efígie de Tiradentes. Não resta dúvida: volto e traço o segundo pastel. Quer saber? Mais gostoso que o primeiro.
kkkkkkkkk eu ainda prefiro o bom e velho aurélio de papel hehehehhe coisas de geração…da mais trabalho??? com certeza ,mas me sinto mais segura…bjo lindona
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Amo pastel, ja vou com o dinheiro pronto pra pegar a promoção, pague 5 e leve 6, hehe. Isso pois meu marido adora pastel amanhecido, pode?
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Faz tempo que não me concedo um pastel… Mas dessa feira de sábado não passa!
Jô
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Que delícia!
🙂
Silmara Franco, sou seu fã!
Beijos.
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Adoro pastel de vento com queijo, o vinagrete só aprendi a gostar depois de grande (quem vê pensa que cresci…rs). Mas aqui em Minas não costuma ter o vinagrete pra acompanhar…só como no interior de SP nas férias.
Bijim e Om shanti!
Aninha
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Adoro todas as suas crônicas!!!
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Estou sentindo o gostinho deste pastel…com vinagrete ainda nem se fale.
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Acredite, isso já aconteceu comigo. Mas como não tive a felicidade de encontrar uma “cara-ou-coroa” na bolsa, voltei pra casa com o primeiro pastel na barriga e o segundo na vontade.
Falando em delícias, delicioso seu texto… como sempre.
Bjs, Sil querida.
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Deu vontade de pastel…
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