Ilustração: Marina Cuello/Flickr.com
Basta ouvir – no rádio do carro, numa festa, num assobio que vem pelo ar – a música de um cantor que já morreu, para a imaginação sair galopando feito cavalo doido. Invento um questionário sem fim, sem ninguém para me ajudar a responder.
Será que as notas viajam no tempo e no espaço e chegam aos ‘ouvidos’ de seu dono, onde quer que ele se encontre nessa hora? E, no caso de chegarem, e de haver letra na parada, será que ele, de feliz, canta também? Será que dança, sentindo seus acordes reverberarem junto à pulsação da Terra? Música ilumina. Não à toa tem clave que é de sol. Quem sabe se tamborila o ritmo com os dedos? A propósito, quem morre continua precisando de dedos depois? Sabe como é. Para o piano, a harpa, o violão.
E se é dessas obras que atravessam eras, reproduzidas e interpretadas à exaustão? Será que o autor pensa no quanto a sua música foi famosa? Talvez nem ligue para isso, posto que no céu todo mundo é famoso, não só meia dúzia de santos e o chefe da casa, como nos ensinaram no catecismo.
Pena sabermos tão pouco sobre quem parte, depois que parte. A gente sabe como é a nossa saudade por alguém que morreu. Como será a saudade de quem foi por quem ficou, ou pelo que deixou? Pena, às vezes, sabermos tão pouco sobre quem a gente canta e já não está mais no planeta. De que jeito fica a voz quando não há mais boca? Não tem nada mais vivo do que voz. Viva-voz.
Só sei que quando dezenas, centenas, milhares, milhões de vozes entoam uma mesma canção pelo mundo, ao mesmo tempo ou não, e ainda que uma não saiba da outra, ou então se essa canção vive e revive em milhares de CDs e iPods, é um coro e tanto. O dono há de ouvir. E seu coração – ou o que quer que ele tenha agora no lugar – ficará em paz.
Querida, não se preocupe. Quando partir, sua boca continuará lá, no lugar de sempre… E poderá cantarolar todas as músicas que desejar… Beijos!
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Tô, com o comentário da Ana: quando poderemos nos presentear ou, presentear outros, com um livro de crônicas suas?…
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Fiquei toda arrepiada… Fazia tempo que eu não te visitava…
E a história de publicar o livro com seus textos? Seria um ótimo presente de natal pra todas as pessoas que amamos!
Bijim e Shanti
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lindo!!!! encheu meu coracao de alegria hoje.
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Meu Deus, como escreve lindamente!!!! Vai além do: existe ou nao existe isso? Si, tu escreve bem pra cacete! Se tu nao sabe como será cantar sem ter boca, como será ler um texto desses sem olhos? Acho que coracao permanece, alma, essência, e essa sabe ouvir, cantar, ler…
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Sil, há algo de especial que acontece quando criamos. Vc que escreve bem sabe que o lugar de onde vem as ideias é tão especial quanto desconhecido.
Eu acredito que todo o trabalho criativo nos é revelado, somos apenas um veículo, um bambu oco pelo qual o deus pan faz soar as lindas canções. tudo pertence a todos nós.
Obrigado pelo texto.
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um coro e tanto… imagine quanta energia gera esse coro… é de arrepiar…
beijinho
Jo
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amei.
música nunca morre.
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Silmara,
Mais uma vez suas palavras se encaixaram com perfeição no meu sentimento … to te mandando um email para explicar!
Beijão .. e obrigada mais uma vez!
Rose
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Valeu a pena esperar…!
Lindo!
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