Poesia de vento

Ilustração: Kathryn Harper/Flickr.com

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Escrevi uma letra para a música que o vento fez

Quando anunciou a chuva de ontem.

Gravei meu quintal chovido em sonho

Para o dia que ele não for mais quintal de ninguém.

***

Estudei fora e dentro de mim

Só não fiz dever de casa

Eu nada devia.

***

Ganhei de aniversário uma vida, mas ficou pequena

Troquei por outra, dois números maior.

***

Fotografei o cheiro do feijão no fogo

Passei perfume na flor sem cor

Desenhei a risada da minha filha num papel de pão

Aqueci a foto da minha mãe no peito

(Ou foi ela que me aqueceu)

Deitei-me no colo do meu filho

Chamei-o de pai

Ele riu

Sabe que já foi meu pai.

***

Beijei o passado, namorei o futuro

Casei-me com o presente.

Formei-me cedo, tive filhos tarde.

Não vi a hora de ser feliz.

***

Entrei no Messenger, Deus não estava on-line.

Atendi o telefone, era eu mesma

E não era engano.

***

Fiz sopa de palavras no jantar

Estava com tanta pressa

Esqueci de por os pontos finais.

***

À meia-noite, fingi que dormia

E deixei a Cuca me pegar.

8 comentários em “Poesia de vento

  1. Fiz sopa de palavras no jantar

    Estava com tanta pressa

    Esqueci de por os pontos finais.

    Minha vida tá uma sopa apressada.. e eu tb tenho esquecido de botar pontos finais.
    Perfeito, Sil! Tudo! Como sempre!
    Bj

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  2. Oi Silmara, endosso todos os comentários acima. Que bom encontrar o que você deixa por aqui. No meio do turbilhão das coisas, sua delicadeza é um alento!
    Beijos
    Cecília

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  3. “Entrei no Messenger, Deus não estava online.

    Atendi o telefone, era eu mesma

    E não era engano.”

    Perfeito, Sil.

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