A pátria amada dos cães

Foto: Chaval Brasil/Flickr.com

Nas comemorações de 7 de setembro não são soldados paramentados, ou bombeiros em tecnológica fardagem antifogo, nem crianças tentando furar o cordão de isolamento, tampouco estudantes convocados para o dever cívico, os que mais se divertem. São os cachorros de rua que acompanham os desfiles.

Cachorro sem dono não vê a hora de setembro chegar. Trata logo de se enfiar no meio da festa. Quer participar, embora não tenha nem vaga noção do que está acontecendo. Lá vai ele, língua de fora como olho adicional para não perder nem uma cena, rabo agitado inventando o ar. Não faz mal se leva um pisão, se atrapalha, se é tocado dali trinta vezes. É espectador dos mais animados. Se for mais dado, quase toma parte na fanfarra. Vira representante da família real, amigo chegado de Dom Pedro I.

No interior, onde o cerimonial é mais camarada, cachorros se misturam às comitivas, lado a lado com os personagens principais. Vão saltando felizes, complementando a coreografia dos desfilantes. Ora se interessam por uma caca na sarjeta, ora farejam um cheiro diferente e deixam a marcha por um instante. Mas logo retomam seus postos. A despeito da eventual fome ou de uma persistente sarna, está sempre tudo bem com eles. Depois dizem que cachorro não dá risada.

Tem os tímidos, claro. Os que sofrem com a agitação, curvam a traseira e buscam refúgio em qualquer beco ou margem plácida, bem longe das bandeiras verde-louras. Brado retumbante não é com eles. Esses, porém, são minoria.

Cachorro é bicho que não sofre de mau humor. Ao contrário de gato, que se dá o direito de acordar, vez por outra, de bode. Gato faz cara de saco cheio quando alguém o incomoda em sua soneca, cachorro não. Cachorro quase sempre topa uma brincadeira. Já gato, nem tanto. Gato é capaz de demonstrar desprezo por seres vivos e objetos. Cachorro gosta de tudo e todo mundo. Gato se lambe. Cachorro baba. Gato é companhia para o cinema. Cachorro, para a novela. Cachorro é funcionário-padrão. Gato faz greve.

Vê lá se gato assiste desfile de 7 de setembro. Quando muito, o faz de alguma varanda ou telhado. Acima de tudo e de todos. Limita-se a observar a parada, achando aquilo uma grande patacoada.

Cachorro é o melhor amigo do Homem. Gato, se falasse, seria aquele amigo que diz o que a gente não quer, mas precisa, ouvir.

Gatos já proclamaram a sua independência. Cachorros, dependentes por natureza, quem sabe, um dia darão seu próprio grito.

[Nota: amo cães. Que não se pense o contrário.]

8 comentários em “A pátria amada dos cães

  1. Se o gato te olha com cara de que vai te atacar é pq ele sabe que tu não gosta dele e pq ele sente energias negativas, essas energias eles atraem pra eles, sempre que estava triste ela estava junto. Só não gosta de gato quem nunca teve um. Os gatos ensinam muitas coisas, tem personalidade forte. Minha gata até me defendia, nunca me olhou feio do nada nem nunca tentou me atacar. Diferente de muitos cachorros que já que atacaram os próprios donos… Gato é tudo de bom. Amo amo amo muito

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  2. Ah, poucas coisas (e pessoas) são mais legais do que um cachorro. Cachorro é tudo de bom, é amigo pra todas as horas. Não sou chegada a gato não… Acho arisco, traiçoeiro, tem uma cara de que qualquer hora vai te meter as unhas. Rs. Trauma de infância, acho.
    Enfim, uma delícia de texto, como sempre.

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  3. Oi Sil…
    me parece que muitos cães (até os vira latas), são mais dignos de participar do desfile de 7 de setembro que boa parte dos homens do cenário político atual do Brasil… os gatos, nem falo, que são difamados quando chamamos um político ladrão de “gato ou gatuno”… coitado dos bixinhos, deveria nos bastar chamá-los de políticos… infelizmente…
    um beijinho Sil e até mais…
    a tarde, vou postar umas fotinhos da Dingo e da Cristal…

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  4. Oi Sil,

    os cachorros são muito interessantes, eles tem um olhar muito significativo, olham e parecem entender nossas dores… gatos não compreendo direito, são enigmáticos prá mim.

    bjs

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  5. Ah, Sil, o papel do cão em nossas vidas é muito maior: ele é um exemplo de humildade, de perdão e amor incondicional. São aqueles a quem maltratamos quando estamos nervosos, estressados e, mesmo assim, demonstram enorme alegria quando chegamos ou nos dignamos a lhes fazer um carinho. Se aprendêssemos um pouco com eles, não teríamos guerra, inimizades, e nem desenvolveríamos doenças por rancor ou raiva… Todos se renderiam aos gestos de ternura e perdão. Bjs querida!

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