A oliveira e o jatobá

Ilustração: Bruno Veloso/Flickr.com

Eu não sei como é a oliveira. Só sei que vem dessa árvore a azeitona. E que dela se extrai o azeite. Sei também que, desde tempos de outrora, ele é muito mais que o óleo venerado na gastronomia. Não foi no Monte das Oliveiras que Jesus viveu seus últimos dias?

Nunca vi um pé de jatobá. Se já, não o reconheci. Nas cidades, ninguém tem muito o costume de saber o nome desta ou daquela árvore. Nem para quê elas servem, além da fotossíntese. Às vezes, sinto falta de saber mais sobre as plantas todas.

À primeira vista, todas as árvores são meio parecidas. Mas é só à primeira vista. Reparando bem, cada uma tem um fruto diferente, uma folha característica, uma flor que é só sua. E, acima de tudo, um nome que é só seu.

Ao contrário de gente. Um mesmo nome pode batizar duas pessoas. Não sendo isso garantia nenhuma de que elas serão iguais, nem que os caminhos de ambas serão os mesmos – embora eles possam se cruzar em algum momento.

Árvores, seja a oliveira, seja o jatobazeiro, nascem e morrem no mesmo lugar. Por causa das raízes. Com gente, que também tem raiz, só que invisível, não é assim. Gente, desde pequena, sabe andar. E é uma pena que não saiba voar.

Árvores, tanto a oliveira quanto o jatobazeiro, frutificam. Mas árvore não chora a perda de um fruto. Gente, sim.

As sementes das árvores, de tanta beleza que têm, se caem e encontram a terra, não morrem. Serenas e pacientes, ficam aguardando a estação propícia para brotar. Já para a semente de gente, tão bela quanto, um tombo pode ser fatal. Mas é possível que ela, querida como é, brote novamente. Quem sabe, na próxima primavera.

Para Isabella Nardoni

15 comentários em “A oliveira e o jatobá

  1. Sil querida,
    estive viajando a trabalho esta semana, e só li este texto hoje.
    Nossa, que lindo.
    Legal este parelelo entre nós e as árvores.
    Tantas coisas que uns tem e outros gostariam de ter.
    Vou pensar mais a respeito.
    Falando nisto, adorei o texto do exagero. E não é que estou vivendo um momento de exagero estes dias?? Uma amiga querida teve um bebê. Mas, ao contrário de mim, não quis ninguém por perto. Eu forcei um pouquinho, acho que exagerei na preocupação, no carinho e no bem-querer. E fui repelida por ela e o marido.
    Ai amiga, fiquei péssima. Muito triste as pessoas agirem assim.
    Mas é preciso aprender a respeitar. Ainda que eu discorde plenamente.
    Beijos mil
    Ana

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  2. Você foi tão delicada, que só fui perceber a sutileza no final.
    Como uma fruta de oliveira, que é espremida pra render um bom azeite, você conseguiu extrair dessa história triste, poesia.
    Abraço!

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  3. Silmara,

    Que lindo mesmo. Apesar de repetitiva, tenho que concordar com os outros que te admiram. Voce e tao sutil.
    Apesar de nao ser bombardeada pela midia como meus compatriotas domiciliados a terra Tupiniquim, o assunto se faz presente aqui e deixa tambem um gostinho amargo na boca: decepcao, ausencia de respostas, a comparacao da dor da mae, se a sementinha da Oliveira perdoou o que lhe aconteceu…,etc.
    Tambem temo o destino das sementes do Jatoba. Quais serao os frutos destes?
    Encontro um certo conforto no que leio aqui. Pois uma coisa tao incompreensivel e falada aqui de forma tao poetica.
    Um grande beijo Sil.
    Da Sil.

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  4. Hello queridissima!!!
    Você se superou na poesia, até quando tudo é infinitamente trágico e triste.
    Que bonita VC!!
    bjssss

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  5. Que belo texto, Silmara! (Aliás, como todos).
    É de uma delicadeza tão gostosa, não fosse um assunto tão trágico e doído.
    Gostei da forma, das analogias, das constatações.

    abraços,

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  6. Oi Sil… há no mundo covardia tamanha, pra causar tanto sofrimento… será que algum momento eles pensaram que ficariam impunes? ou isso aconteceu pra que eles definitivamente não acabassem ferindo os próprios filhos também? Designios de Deus, existem? Como Judas, que foi até necessário pra completar o ciclo, os pensamentos não se alinham, me coloco no lugar dessa mãe órfã do carinho mais sincero, do amor mais terno que é o do filho… e então será que há justiça suficiente na mãos dos homens que aplaque essa dor?

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