A pulga e a orelha

Ilustração: Douglas Baulos/Flickr.com

Lugar de pulga não é atrás da orelha. Quando ela surge, parece sempre deslocada, incômoda, indesejada, estranha. O sujeito fica doido para se livrar dela, mesmo sem compreender como é que ela apareceu ali.

Ela pode ter vindo do gatinho na rua, aquele que você parou tudo só para fazer um cafuné. Coisa que um inseticida qualquer resolveria. Há pulgas, porém, que nada dão jeito. São aquelas que vêm por outras vias, menos concretas, como telefonemas, emails ou conversas pela metade. As que são trazidas por outro tipo de parasita, como a Dúvida. Que é da mesma espécie da Incerteza, família da Insegurança.

Sinais de pulga por perto: a empregada dizer que não veio trabalhar o dia inteiro porque foi ao médico. O técnico falar que o conserto vai deixar a máquina de lavar roupa (que tem quinze anos) “novinha em folha”. O shopping anunciar uma liquidação com descontos de até 70%. O chefe sondar se você já comprou passagem para as férias. O namorado adoecer gravemente horas antes do aniversário daquela sua tia que fala pelos cotovelos. (Receber zero comentário para “Os órfãos”.)

Daí para a orelha é, literalmente, um pulo. Instalada, a pulga é capaz de fazer pequenos estragos, como abalar a confiança, acabar com a paz, minar um relacionamento. Além da coceira infernal, que sucede o que chamamos de fim da picada.

Para acabar com as pulgas atrás da orelha, vale tudo. Dedetizar as ideias, de modo que bicho nenhum – inclusive minhoca – chegue perto. Conversar abertamente, olhar no olho, dar tempo ao tempo. Ou nada disso: um bom banho e pronto.

6 comentários em “A pulga e a orelha

  1. Olá querida!!
    Não esquenta a cabeça sobre os poucos comentários dos “os Órfãos”.
    As vezes, leio o que vc escreve e faz todo o sentido. O problema é que faltam palavras.
    Você é sempre muito inspirada e inspiradora, pode crer!
    bjs
    Cris.

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  2. Oi,
    que texto lindo. Conseguiu escrever com tanta proximidade, senti uma pulga aqui. Risos.
    Posso usar vez em quando com meus pacientes?
    Direi quem é a autora e que é uma pessoa muito sapeca, que tem o dom de colocar em palavras direitinho o que acontece com a gente. Se permitir, é claro.
    Beijos,
    Claudia

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  3. Engraçado como todo dia, não falha um, tem uma picando a gente, mesmo que seja só umazinha!
    E, às vezes, “chá de travesseiro” também é um bom remédio!

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  4. Gosto de como você brinca com as palavras, como um bom malabarista.
    Para que não ficasse com a pulga atrás da orelha com o meu sumiço, tratei de colocar a leitura em dia e fazer meus comentários( porque realmente, não há nada mais frustrante do que se esforçar pra escrever um bom post e ninguém comentar!).

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  5. De preferência que a ducha seja de água fria viu Sil? Assim esfriamos a cabeça e a pulga se preocupa em não passar frio e para por alguns minutos (beeeeem pequenos na verdade) de nos mordiscar.

    Beijos na alma!
    Layla Barlavento
    culpadowalter.blogspot.com

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