Isso são horas?

Essa é para deixar Cronos, deus do tempo, meio lelé. No mínimo, confuso.

Tanque quase vazio, parei para abastecer o carro. Aproveitei para espiar a lojinha que há no posto. É um pequeno atelier de artesanato. Na porta de vidro, a placa informa:

A Jussara, ou simplesmente Juca, é quem comanda o lugar e faz tudo o que está à venda nele. São objetos de decoração simples e caprichados, como uma luminária de parede em forma de pipa – ou papagaio, quadrado, raia, pandorga – com direito a uma rabiola comprida, feita de retalhos coloridos. Dá vontade de sair empinando. Mas interessante mesmo é a placa. O expediente ali tanto pode ser das oito às cinco, como das dez ao meio dia. E, entre os dois, muitas possibilidades. Tudo depende.

Metáforas à parte (pois se todos resolvessem trabalhar dessa forma o mundo colapsaria), o bom humor da placa revela: ali trabalha uma pessoa dona do seu nariz. Alguém que recusa o sutil convite para se encaixar na fôrma e, mesmo assim, é capaz de uma produção com valor cultural e comercial. Vamos confessar: por mais que você ame sua profissão, tem dias que a última coisa que você gostaria é de ir para o trabalho. Ou, pelo menos, não na hora que inventaram para ele.

Vá lá: horário é importante. Para registrar nascimento e morte, almoçar, jantar, ir à missa, à escola, ao médico, pegar ônibus, avião, ver novela. Sem horários, é caos na certa. A Juca deve perder freguês e negócio de vez em quando. Talvez não viva somente do seu artesanato. Mas, ao que tudo indica, ela sabe seu ritmo, dirige a sua vida e não deixa ninguém lhe tomar a direção. Quem sabe o ideal fosse o meio-termo. Nem tanto o céu, nem tanto a terra, mas na altura das pipas. Um pouco mais ao sabor do vento.

A foto da placa foi feita com o celular. Infelizmente, não ficou com muita definição. Mas tudo bem: faz de conta que é para combinar com os horários do atelier.

8 comentários em “Isso são horas?

  1. hahahah vc esqueceu de colocar : todo mundo tem hora no dentista , e eu, dentista( já pensou uma placa destas num consultório???)fico pensando que em uma ilha do pacífico onde só tem um(…) , esta placa seja possível.

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  2. Que gostoso, né Sil? Se todo mundo pudesse trabalhar assim, mas concordo com vc, o equilíbrio seria mesmo o melhor, nem muito nem pouco.
    Muito na vida só amor, alegria, saúde, e sorvete!! O resto virá, ou não, mas não tem tanta importância.
    Um feliz aniversário de Jesus para vc e seus filhos, sogra, marido, cachorro, gato e papagaio!
    Que em 2010 possamos continuar desfrutando um pouquinho da sua alma!
    Beijos!

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  3. Voltei das férias, a tempo de lhe desejar um feliz natal e me deliciar com o seu texto, saboroso como sempre.
    Nestes últimos dias, meu pequeno, que se estressa com mudanças de rotina, ficava me perguntando( e me estressando), o tempo todo: ” onde nós vamos? o que vamos fazer? que hora, voltamos?”…Cansada de ter de responder sempre às mesmas perguntas, pedi-lhe que me poupasse de, pelo menos durante as férias, não precisar programar nada. O relógio, servia apenas para marcar a hora de: passear, comer, dormir…
    Celular: des-li-ga-do!
    Uhm…gostinho de liberdade é viciante. Não culpo, essa feliz e independente criatura.
    De volta ao mundo real, estou de plantão no natal…
    ( Posso me atrever a pedir para usar a imagem da placa, com os devidos créditos?…Pronto: pedi.)
    Um abraço, Silmara!

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  4. O lugar certo, a hora certa e o celular na mão pra registrar. Só podia dar nessa beleza de texto.
    Fiquei pensando: Bom mesmo é ter uma plaquinha dessa na carteira do colégio avisando minha disponibilidade hahaha

    Amei, Sil.

    Não sei se você percebeu, ou se dá importância, mas esse é seu post número 99 🙂

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  5. Espirituosa demais a Jussara!!!
    Amei a placa e o post.
    Muito alto astral e realmente nos diz mais do que parece.
    Boas Festas e um 2010 cheio de idéias novas, sonhos novos, realizações atemporais e muita saúde, pra conseguir tudo o que desejar.
    Foi muito bom te conhecer neste ano de 2009.
    bjs

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  6. Sil, tô com essa Juca aí e não abro.

    Quer dizer, é uma confusão.

    Detesto a sensação de que tem alguém controlando os meus horários, de que estou vendendo a coisa mais preciosa da vida, as minhas horas, por alguns trocados (e ultimamente tem sido só uns trocados mesmo)

    Eu adoraria viver sempre assim. Mas ao mesmo tempo, nos momentos da vida em que consigo fazer o meu próprio horário minimamente (por exemplo, agora, que estou “apenas” bolsista do mestrado, sem outro trabalho), sinto uma CUUUULPAAA (lembra do texto da culpa?) por não trabalhar das 8h às 18h como todo mundo.

    Que doida, né? Meu namorido diz que eu adoro um problema.

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  7. Que fofa essa placa, Sil… ainda mais nessa época que todo mundo corre contra o relógio, que o comércio vira festa quase sem hora pre terminar, que nosso tempo parece correr também e os ponteiros ficam se amarrando e quando piscamos o olho deram três voltas… queria levar a vida assim, talves das 7h as 10h ou até as 15h… com pausa pra água e pra me alongar, pra pegar o Théo no colo, pra um abraço apertado e balançado… era uma boa meta pro ano que tá chegando…

    Um beijinho, Sil, muita paz e saúde e um relógio bem lentinho, nesses dia corridos…

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