Good at being bad

Foto: Luc De Leeuw/Flickr.com

A moça passou sorrindo. Sua camiseta avisava: I am good at being bad. Também sorri. Mas não para ela. Vai que era uma t-shirt autobiográfica. (Se bem que. No fundo, todas são.)

Há quem tenha, de verdade, vocação para a maldade. Minha avó era ótima em ser má. Quando eu era criança, cansei de vê-la afogando gatinhos, sem dó, assim que a gata dava cria. Movida pela determinação de conter a população felina em casa, e – ninguém me convence do contrário – também por prazer, ela conduzia o ritual de sacrifício no mesmo tanque em que nossas roupas eram lavadas. Poucos escapavam. De tempos em tempos, ali se tornava o cenário de outra espécie de purificação. E, apesar de sentir uma pena imensa dos indesejados recém-nascidos, eu não tinha poder para impedi-la. Consternada, assistia à morte deles com (dolorida) naturalidade, embora soubesse que havia algo muito ruim naquilo.

To be bad, porém, não é qualidade exclusiva de gente grande. Crianças, especialmente quando no bando, também podem ser cruéis e muito boas em escolher o objeto-mirim da sua maldade. Inclusive, em cenários acima de qualquer suspeita, como a escola. Elegem para afogar no mar da intolerância quem está acima do peso ou abaixo da média na altura, o pobre, o tímido, o feio, o sensível e até o que não é nada disso, mas tem o azar de não contar com a autoestima blindada.

E quem disse que to be good at being bad só vale para terceiros? A auto-sabotagem, embora um pouco menos famosa, é igualmente danosa. Talvez, a mais difícil de identificar – e combater. É quando a gente sempre arruma uma desculpa para deixar de ser feliz. Vai repetindo padrões tão velhos quanto o mundo, que levam sempre aos mesmos lugares e frustrações. Até o dia em que se descobre mergulhado no oceano profundo da auto-sacanagem. Morrendo lentamente pela falta do ar. Como os gatinhos no tanque. Com a diferença que esses, de fato, não tinham escolha.

6 comentários em “Good at being bad

  1. Sil, em Curitiba passei por um menino com uma camiseta assim: “TÔ DOIDÃO!”

    Quando percebeu que eu li, sorriu pra mim de um jeito que tive certeza que era autobiográfica. Retribui… Vai que.

    Beijo,
    Camila

    PS: O presente de alguém vai viajar amanhã, pela segunda vez.

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  2. Mais um “abre-olho” esse ultimo texto.
    Adorei os novos termos “auto-estima blindada” e “auto-sacanagem”, vou utiliza-los no meu dia-a-dia como por exemplo: “Nao da bola pra ela Silmara, ela ta te provocando pois quer ver se sua auto estima esta blindada hoje”.

    A parte de nao sacanear com os outros, eu tiro de letra, mas quando o assunto e me “auto-sacanear”, isso to aprendendo bem devagar. Ta dificil, de pouco a pouco, logo logo eu chego la.
    Ah, senti a frieza na sua escrita descrevendo o prazer dela afogar os bichinhos, a principio fiquei enojada, mas entendi que essa descricao foi exatamente o que voce quis passar ao leitor. Senti na pele mesmo.
    Mandou bem de novo Sil.
    Um grande beijo e uma otima semana.

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  3. Olá querida!!!
    Que profundo isso!
    Eu sempre me pego pensando, se tem como ensinar alguém (no caso, minha pequena Juju) a lidar com as pessoas que tentam nos derrubar, no decorrer da vida.
    Posso dizer que tive sucesso, pois nunca me deixei abalar demais por comentários que sempre existem, na vida de qualquer um. Só me dá um pouco de medo de pensar que ela pode não ter herdado isso de mim, ou do pai.
    Ai que medinho!!!
    bjssss

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