Lista de casamento

Ilustração: Fernando Weno/Flickr.com

O Brasil já teve sete moedas desde que nasci. E, depois de grande, eu me adaptei bem a pelo menos cinco delas. Foi fácil me familiarizar com a TV a cabo e seu jeito novo de assistir televisão. A transição do bip para o telefone celular foi tranquila (embora eu andasse com os dois, o sinal não era lá essas coisas). Aprendi a usar o email de um dia para o outro. Aderi sem problemas à ideia de separar o lixo na minha casa. E não vejo nada demais quando um amigo me conta como conheceu o namorado. Mas tem uma coisa que eu ainda não me acostumei: lista de casamento.

Lista de casamento foi inventada para fazer a gente se esquecer do significado de presente. Todo mundo sabe como funciona: os noivos vão a uma, duas, três lojas, escolhem uma porção de presentes que gostariam de ganhar, o vendedor põe tudo numa lista enorme, os convidados vão até essas lojas, escolhem um item, pagam e mandam entregar. Ou fazem tudo isso de casa mesmo. E pronto. Tarefa cumprida. No máximo, vai um bilhetinho junto, com uma frase óbvia sobre amor, casamento, votos de felicidade e outras patacoadas, escolhida dentre meia dúzia de opções que a loja já preparou para clientes sem muita criatividade ou paciência.

A gente já não precisa mais quebrar a cabeça pensando num presente especial para os noivos. Ninguém quer saber se eles são clássicos ou modernos; se vão morar num apartamento minúsculo ou numa casa espaçosa; se gostam de azul ou se preferem verde. Alguém resolveu facilitar tudo. As palavras de ordem: simplificar, não ter trabalho, ganhar tempo. As lojas estão preparadas para trocar os presentes repetidos, ou aqueles que não agradaram muito. O jogo de panelas, mais o de copos e a dúzia de bandejas viram um único presente. Quem deu esse home theater para vocês? Na verdade, o tio, a tia, o amigo, a prima, o irmão, a cunhada, o avô. A saia justa na primeira visita: Gostaram do vaso de murano? Aquele, que virou forninho elétrico.

Vá lá. Ninguém anda com tempo sobrando para longas peregrinações em busca do presente perfeito. Mas a facilitação exagerada arranca o charme dos rituais. Amputa o sentido de presentear. Manda para as cucuias o carinho, o afeto e o desejo original de ver o outro feliz.

Hora de reinventar o presente de casamento. E, por que não, o próprio casamento. O que já é outra história. Bem mais comprida.

23 comentários em “Lista de casamento

  1. Pra mim a maior alegria de presentear alguém é ouvir a frase: “nossa, adorei, você conhece mesmo o meu gosto”.
    Adoro ir passear e procurar auqlee presente que seja a cara de alguém, aquele que ela depois vai usar e lembrar que fomos nós que demos… Eu gosto mais de presentear do que receber presentes 🙂

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  2. Nossa acabei de casar e fiz lista. Mas ganhei vários presentes que não estavam na lista e que amei de paixão. Ainda bem que tenho amigos rebeldes que não ligam para listas.

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  3. Concordo com você que as relações sociais estão ficando tortas, formais demais, frias. São as convenções sociais. Ah se a gente pudesse convidar apenas as pessoas realmente queridas (amigos e familiares próximos) para os eventos importantes da nossa vida. Mas ai tem os amigos dos pais, a parentada, em sua maior parte, insuportável, o pessoal do trabalho (aqueles que não entraram na categoria amigos). Se não convidar é uma mágoa para o resto da vida. Perdi a conta de quantos eventos fui de convidada de convidado. E a conta de quantas pessoas desconhecidas eu tive de cumprimentar nos meus aniversários.
    Não que isso seja certo, afinal é uma verdadeira falsidade institucionalizada, mas a fim de evitar desnecessários e eternos atritos familiares/profissionais, a gente aumenta a lista de convidados e agiganta a de presentes.
    Eu vou fugir, sequestrar o noivo, os meus pais e os pais do dele e convidar secretamente meus amigos para um casamento em algum lugar no meio do mar. 🙂

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  4. Ahhhh, eu sou rebelde.
    Não obedeço a essas listas; nem tenho dindim pra cumpri-las, na verdade.
    Compro logo uma escada, dessas que todo mundo precisa e ninguém lembra de comprar, pra quem é de escada; um filtro de barro pra quem é de filtro de barro ou umas tacinhas de sorvete pra quem é de sorvete… na boa.
    E, mais, não uso aqueles cartões feios, uso minha letra feia num cartão bonito.

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  5. Já cantei em tanto casamento que acabei acostumando com a cerimônia. Na maioria das vezes, acabo esquecendo do presente! rs Mas das vezes que comprei algum, não segui a lista. Acabo de lembrar do jogo de xícaras coloridas tão lindo que vi e pensei comprar pra uma amiga. Era criativo, divertido. Mas não comprei… Criativo e divertido. É como eu penso que deve ser um casal.

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  6. Aqui em casa a gente já acostumou. Nossos parentes colocam e a gente escolhe de acordo com as posses e gostos
    Fica bem fácil a escolha.
    Com carinho Monica

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  7. A lista de presentes, na minha opinão, facilita na hora de comprar presentes para pessoas com as quais você não tem muito contato. Sabe aquelas situações em que a sobrinha do chefe do seu pai vai casar e, sei lá por que raios, você foi convidada e nunca viu a noiva mais gorda. Você estabelece uma faixa de preço, escolhe o presente e voi-lá. Se ela não gostar troca, nem vai se importar. Agora quando se trata de alguém que você conhece e que gostaria de dar um presente personalizado, e que em regra não está na bendita lista, o negócio aperta. Bem, se você for estribado, o jeito é dar o presente da lista e comprar aquele especial. Senão, vai o conjunto de 6 copos para caipirinha com os maiores desejos de felicidade.
    Silmara, acho que digitei o e-mail errado :p. Bem, muito obrigada pela visita. Voltarei sempre por aqui. Beijos!

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  8. Tenho medo. Medo de convites de casamento. Medo de listas e de ter que comprar um presente, baseado no: “Isso veio de quem?! Uhm…Poderia ter comprado coisa melhor.” Chato, “isso”.
    Ainda sou do tempo em que se batia perna, procurando algo que fosse a “cara” do presenteado. E “isso”, realmente dá trabalho!
    ( Falando em presentes, não de casamento, tenho trocado alguns com amigas blogueiras e, o prazer de preparar algo que sei, será aceito na maior alegria, assim como receber coisas, tipo: recadinho escrito à mão, geleia de fruta exótica, colhida no quintal, biscoito em formato de passarinho, contact florido…Bobaginhas?! Ah! “Isso” é que é presente!)

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  9. Sil, me casei no Brasil e vim para a Espanha. Eu não resisti e comprei algumas coisinhas entre o período de noivado e o casamento, como esse tempo foi curto não me excedi :)).
    Bem, chegou a hora de mandar os convites e fazer a tal lista de presentes. Eu fiz sim uma lista, que era mais para orientar se alguém se sentia perdido, porque na verdade, por causa da bagagem eu preferia não ganhar muita coisa pesada e de vidro, por exemplo. Mas só quem me perguntou soube sobre a existência da mesma e acabei ganhando coisas que as pessoas queriam me dar.
    Antes de fazer a tal listinha alguns sugeriram que eu abrisse uma conta de banco para que os presentes fossem em dinheiro. Nossa, nem pensar, pode ser mais prático, mas para mim é de extremo mau gosto e eu nunca faria uma coisa assim.
    É claro que entre um presente ou outro algum acabou ficando na casa da minha mãe, porque só uma pessoa sem noção me dá de presente uma caixa gigantesca com um super conjunto de jantar com não sei quantas peças :))
    Porém, entre excesso de bagagens eu consegui trazer quase tudo e adoro ter aqui em casa um pouquinho do carinho dos amigos.
    Beijos e obrigada por mais um texto lindo.

    Ah, estou atrasada na minha leitura por aqui, volto para corrigir esse erro :))

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  10. Oi Silmara,
    Pior que a lista de presente são mesmo essas cotas em agencias de viagem. Uma vez no casamento de uma super amiga, fui até uma agencia dar a minha “contribuição” para a viagem de lua de mel dos noivos. E depois que paguei eu pedi um recibo como costumava fazer para tudo que eu “comprava”, e eis que a moça da agencia não queria me fornecer o tal recibo pois o cheque ao qual eu havia acabo de dar não era para a agencia de turismo e sim diretamente para os noivos… só por Deus, cheguei a ficar roxa de tanta raiva e vergonha ao mesmo tempo! E pior que isso, a moça da agencia ainda teve o dom de ir contar para a minha amiga sobre o meu pedido pelo recibo, e o noivo no dia do casamento (meio bebado) ainda teve a audacia de começar a contar a história na minha mesa com todo mundo ouvindo!!! Quase morri de vergonha, foi uma situação muito constrangedora para mim!!! Eu fiquei totalmente sem graça…e não disse mais nenhuma palavra e como todos ali me conheciam, eles deveriam mesmo saber que com toda certeza do mundo eu pediria recibo, pois sou totalmente contra a não declaração de impostos, etc… Mas fala sério, ninguém merece passar por uma “cota” dessa de tanta vergonha!!! Beijinhos!

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  11. Uma vez, eu e a Thâmara fomos comprar um presente de uma lista de casamento de nossos amigos na Etna. Foi uma dificuldade muito grande fazer com que a vendedora nos mostrasse a lista, ela queria saber porque a gente não fazia tudo pela internet.
    No final, ela disse assim… “vocês sabem que na lista de casamento da Etna vocês não dão o presente, vcs dão uma cota no valor que pagariam por esse produto, os noivos escolhem outras coisas depois”… ok a gente sabe que é assim, mas ela não precisaria ter falado na cara.

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  12. Conheci noivos que, além da lista, dispobilizaram o site de uma agência de turismo para que os convidados comprassem cotas e assim financiassem a viagem de lua de mel. Aí é pior. Você está presenteando única e exclusivamente dinheiro. E eles sabem exatamente quanto.

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  13. Silmara,

    Juro que aundo comecei a ler pensei que vc ia falar dessa moda horrorosa de pedir contribuições em dinheiro p viagem de lua-de-mel.

    Vc entra no site da agência e escolhe a quantidade de cotas que quer dar. Assim, os noivos ficam sabendo extamente quanto cada convidado resolveu desembolsar.

    Já viu coisa mais sem-graça, pra não dizer que eu acho uma baita falta de educação?

    Coisas da modernidade e que eu não consigo me acostumar…

    bj

    Ivana (tete)

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  14. É como pessoas que oferecem vales de presente para não se aborrecerem. Odeio que me ofereçam vale de presentes e nunca os ofereço. Acho tão impessoal, tão “não tive paciência para dedicar 1 hora da minha vida a procurar um presente para ti, por isso toma lá isso”.

    Um beijo*

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  15. oi Sil

    Que texto gostoso! Deu coceira na ponta dos dedos, pra contar muitas histórias… uma coisa puxa outra… Eu não escolho nunca por listas de casamento, simplismente me recuso. Acho que a lista tira de nós o prazer de presentear, de escolher. Não fiz lista no meu casamento e ainda tenho muitos dos presentes que ganhei e lembro das pessoas que deram com carinho. Tenho também umas manias como presentear com livros, crianças e adolecentes… Mas um dia aconteceu uma coisa emgraçada. Num chá de flaldas de uma amiga, eu não tinha pacote de presente e revirando meus rolos de papéis diferentes que eram do meu escritório (eu havia fechado recentemente) encontrei um papel de balas de banana, muito comum aqui no sul, pois é um produto do nosso litoral… mas não era o papel de uma balinha… e sim uma folha impressa tamanho A1 (gigante) para embrulhar pelo menos umas 500 balinhas de banana. Não pensei duas vezes, fiz um pacote tipo bala para as fraldas…. foi ilário quando chegei e minha amiga pegou o pacotão “bala” e disse pra todos, “Oba, eu adoro bala de banana!!!” Melhor que os presentes é que sempre encontro uma maneira engraçada para fazer o embrulho…

    um beijinho
    Josi

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  16. O próprio ritual do casamento virou um espetáculo que me mata de preguiça. A maioria das pessoas não vai mais a um casamento por consideração aos noivos ou suas famílias, mas para usar “aquele” vestido e olhar os vestidos dos outros. E se não tiver “aquele” vestido, é simples: não vai. E tantos outros problemas que eu não vou ficar enumerando aqui pq gastaria todo o espaço do seu blog. rs.
    Sempre quis não casar na Igreja e até não casar. “Juntado com fé, casado é”. Apesar de essa idéia estar em transformação, minha negação ao ritual permanece. E definitivamente, eu não quero um lista de casamento!
    Beijos

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  17. Sabe que é? as pessoas andam de mãos dadas com a preguiça, isso sim. A pretexto de facilitar a vida, perde-se o sabor. Vivemos uma era insossa, não? Já reparou na imensidão de carros cinza que perambulam pelas ruas? Não é preto e não é branco. Todo mundo em cima do muro, com medo de se comprometer, de se expor, de dizer a que veio, no que acredita. Era sem valores, de moral mesquinha que se reflete em todas as áreas da nossa vida. Aliás, não só os presentes viraram essa coisa esdrúxula. As festas de casamento, que antes eram uma celebração, agora têm roteiro, script e direção de arte. Nada pode ser improvisado, vir do coração. Uma chatura. Sorte minha que casei num Quintal, (de verdade, não virtual, hehehe), teve tombo e papelão, muita risada e abraços, e quando eu puder, vou ter sim, um carro vermelho. Ou talvez amarelo.
    Uma semana iluminada!

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  18. Oi minha querida,
    Se conseguirem reinventar a maneira de presentear os noivos, poderiam também reinventar todos os tipos de maneira de presentes, acho eu que as pessoas esqueceram o que é presentear alguem, o prazer de comprar algo pensando na pessoa, na cor que gosta, no jeito que gosta.

    Quem sabe assim, eles se lembrem da importancia de um casamento, de um nascimento e por ai vai.

    Lindeza
    Lindo texto
    bjos mil

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  19. Sil querida,
    vc me fez lembrar o casamento de um amigo querido em maio. Fazia uns 10 que a gente não se via e ele me descobriu. E ainda por cima me convidou para madrinha. Um cara especial casando com uma mulher toda diferente numa ritual conduzida por uma mulher meio bruxa do bem. Cheio de simbolismos com direito a participação especial do coral onde os noivos cantam e onde se conheceram.
    Para presentear, fui numa loja que adoro e nem falei de lista (coisa que, óbvio, eles não fizeram). Fiquei um tempão lá dentro e descobri uma cabeça de Buda lindíssima.
    Caprichei no cartão que escrevi em casa e mandei entregar.
    Foi o presente mais comentado.
    E o mais bacana: o que deu o maior prazer de escolher. Pq presentear é isto mesmo. Escolher com carinho pensando na pessoa.
    Beijos em seu coração.
    Ana

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