Foto: Karl Eschenbach/Flickr.com
Era trinta e um de maio, domingo. Chuva fina na cidade. E ele acabara de nascer. Pela segunda vez.
Na primeira, há trinta e nove anos, também era trinta e um de maio. Também era domingo. E também chovia no Rio de Janeiro. Seu pai estava ensopado, nenhum táxi queria parar. Sua mãe, menos ensopada, aguardava sob a marquise do velho prédio onde moravam. Contava os minutos. Os intervalos entre as contrações ficando menores. E os dos táxis, maiores. Foram salvos pelo dono do mercadinho, que passava pela rua e reconheceu seu pai.
Foram os três para a maternidade, na Kombi sem bancos atrás. O homem e o pai foram na frente. A mãe atrás, deitada. Por pouco, muito pouco, ele não nasceria ali, em meio às três caixas de mamão papaya e seis engradados de laranjas. Mas acabou nascendo pelas mãos do médico de plantão que não tinha nome. Suas únicas palavras, nos trinta e seis minutos em que estiveram juntos – mãe, pai e médico – foram: É um menino.
Vinte e quatro horas depois os três deixavam a maternidade. Na porta, uma mulher sentada no chão dividia um sanduíche com um cão. Acenou para eles e disse: Feliz Natal! O pai estranhou – não era dezembro –, mas a mãe não. Às vezes mães sabem mais coisas que os pais. Quando criança, gostava de vê-la montando o presépio, contando histórias de três magos que eram reis. Ele queria saber o que era o Natal. Ela explicava que é o nascimento de alguém. Ou renascimento.
Na segunda vez, uma viagem a trabalho. Primeira vez em Paris. Mala feita e terno novo. E um congestionamento interminável até o aeroporto. Perdeu o avião.
Frustrado, tomou o táxi de volta para casa com passagem, mala e terno. Pararam em um sinal e lá veio o moleque, sem ligar para a chuva. (Moleques e sinais parecem ter sido feitos um para o outro. Mas atenção: não são.)
Com pena do garoto encharcado, comprou dele um Mentos. Ao devolver o troco de três reais, ele abriu um sorriso e disse: Feliz Natal, moço! O motorista achou graça, não era dezembro.
À noite, ele, que aprendera muitas coisas com sua mãe, entenderia o que o moleque dissera. O avião que perdera se perderia no mar poucas horas depois de decolar. Antes de dormir, em meio à prece, atinou. Ninguém precisa perder um voo que não houve para nascer de novo. Todos os dias.
Mais um pra não falar nada. Só sentir.
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Maravilhosa crônica insercionada em um assunto já tão delicado de se trabalhar.
ótimas palavras.
abraço de carinho.
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Mto. inspirado seu texto. Acho que a vida sempre nos surpreende, com coisas boas ou não, mas estar vivo e levando a vida com coragem e determinação vale a pena. Feliz Natal!
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Fiquei arrepiada… o que significa que sua escrita me emocionou láaaa no fundo da alma.
E é verdade. Cada dia é um renascimento. Feliz Natal!!!
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Amei!
Sempre leio seus textos, mas (infelizmente) nunca comento.
Hoje, finalmente (movida pelo arrepio na espinha que a leitura me proporcionou) lanço mão da correria para aplaudir sua poesia.
Parabéns pelo talento!
Bjos!
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Parabéns Silmara!!
Lindo texto [como sempre]!! é impossível deixar de passar por aqui… (:
Beeeijoos
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E sempre bom conhecer a história de nossos antepassados. para poder dar continuidade a nossa propria história
Parabens
com carinho Monica
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E a gente sempre reclama quando perde oportunidades… Falta entender que as coisas acontecem quando têm que ser… só isso…
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Mais um ótimo texto, Silmara; estranho como as pessoas costumam desassociar o significado do Natal e a própria palavra, não? A maioria associa natal a papai noel, festas, presentes, e esquecem que é uma festa de aniversário, ou seja, de um nascimento.
E nessas horas de tragédias coletivas é que começamos a pensar nas segundas chances que às vezes temos… alguns até aproveitam para mudar alguma coisa em suas vidas.
Grande abraço!
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Fiquei intrigada quando vi no meu blog o seu link com o texto “Feliz Natal”. E disse, ora, a mulher é dada a devaneios, mas será para tanto?
Pois fiquei agradavelmente surpresa quando vim aqui para ler mais uma história sua. Como sempre, direto no peito.
Ah, e Feliz Natal para todos nós, seres de luz que somos, cuja destinação maior é a felicidade. Mesmo quando a gente teime que não.
Beijos!
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Parabéns pela sua escrita. Belissimos textos!
Tou sempre lendo, mas não sou comentarista, só leitora mesmo. Passei para lhe desejar felicidades, alegria e agradecer os textos bacanas.
Abraços
Valéria
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Adoro tudo que vc escreve, fiquei viciada total no blog, beijos!!!
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O irmão de uma conhecida minha estava nesse voo. Mas Deus tem todas as respostas e sabe de todas as horas. A dessa pessoa que renasceu em vida e a do irmão de minha colega, que tbm teve seu renascimento, em outra vida, outro lugar… Acredito muito nisso.
Lindo seu texto, como sempre.
Você já é uma querida.
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Feliz Natal Sil. Todo dia deveria realmente ser Natal.
Beijos na alma
Layla Barlavento
http://culpadowalter.blogspot.com
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Lindo, texto!
FELIZ Natal!!
Beijinhos e muita luz…
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Adoro os textos, adoro as fotos que os acompanham.
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Ai eu amo as coisas que tu escreve!
Fico sempre esperando o próximo post…
Mais um texto incrível, parabéns, e concordo com a Ivana e a Marie, lançar um livro seria uma idéia incrivel!
Beijos e uma ótima semana pra você querida!
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dizer o quê, se não FELIZ NATAL?
bom, muito bom.
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Silmara, faço minhas as palavras da Ivana.
Que tal publicar um livro?
Lindo texto.
Beijos da Marie.
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Silmara,
Que bom que temos a chance de renascer a cada dia. Pena que muito poucos percebem essa pequena dádiva diária.
Acho que já está na hora de vc pensar em publicar um livro com esses seus textos maravilhosos.
bjs
Ivana
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Maravilhoso!
Feliz Natal!!
=)
Beijos…
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Sil,
Lindo, lindo, lindo. Muito lindo.
Beijos
Ana
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Renascer todo dia
mesmo que o dia la fora
nos mostre cinza, chuva e trovão
Renascer na espera
na escolha
no coração.
Meu dia coloriu.
Mil bjos
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Que delícia começar um dia comum com sentido natalino! Beijos de ótimo dia pro cê!
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Silmara, eu amo você! Que bom que passei por aqui antes de adormecer. Um abraço bem forte, minha querida!
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