A.K.M.Adam/Flickr.com
A gente deveria ter quatro olhos. Os dois já existentes, que olham para fora. E mais dois, que olhassem para dentro. Que fossem além do tal terceiro. Que pudessem ver a nascente do pensamento e descobrissem como é que surge esse nosso olhar para o mundo, para as pessoas, os bichos, as coisas todas.
Esses olhos extras veriam onde é que nasce o amor. Como ele se forma e de quê ele precisa para crescer. E também o que o faz morrer. Sabendo disso, talvez a gente se enganasse menos e se cuidasse mais.
Um par de olhos extras mostraria, com alguma exatidão, de onde vem o ódio e do quê ele se alimenta. Assim, bastaria negar-lhe o nutriente básico, essencial. Para vê-lo minguar, até sumir. Embora sempre vá existir quem goste dele bem gordo. Tem doido para tudo.
E a saudade? A gente costuma se enganar sobre ela. Olhos comuns, de olhar para fora, veem na falta – de alguém ou de alguma coisa – a sua verdadeira fonte. Às vezes, a tristeza. Mas só os olhos extras saberiam que é tudo culpa do apego, aquele sentimento que insiste em dizer que tudo é nosso.
Com olhos extras a gente poderia ver a raiz da dor. Dor de qualquer tipo: de coração, de cabeça, de cotovelo. A gente conseguiria vê-la como ela realmente é lá dentro, desnuda e chorosa. Sim, porque aqui fora todo mundo sabe os disfarces que ela usa.
(Pensando bem, deve existir quem já tenha esses olhos a mais. São as pessoas que a gente vive dizendo que não são deste mundo.)
Olhos extras também poderiam dizer onde, afinal das contas, se esconde a tal felicidade. Olhos comuns (os mais espertos, claro) já deram a dica: é dentro da gente. Mas a gente é muito grande por dentro. Dá preguiça procurar. Nessa hora, os extras, que também teriam boca e certo senso de humor, falariam bem baixinho ao pé do nosso ouvido:“Ela está em cada uma dos cem trilhões de células desse seu corpo. É só ligar os pontos, oras bolas.”
Excelente texto!
Muito, muito bom!
Venho aqui sempre, mas fico admirando suas palavras na surdina, sem me manifestar.
Adoro sua visão sobre as coisas, adoro a forma que escreve. Um dia, ainda serei como você (tomara! rs!).
Parabéns!
Bjs,
MEL
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Belíssimo texto! Vou colocá-lo no meu blog com uma referência sua! Beijos
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Você completamente não é deste mundo, Silmara. Talvez com esses olhos extras eu teria como entender o por quê da minha vontade de nunca mais parar de ler seus textos, mas uma coisa é certa: eles me completam e isso basta.
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Talvez seja melhor não termos olhos extras.
A vida fica mais cheia de surpresas, e não corremos riscos com os “doidos” que engordariam ódio e outras coisas ruins…
bjo!
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Meidtem, meditem, meditem….
Não como uma coisa chata, mas como o único jeito de conhecer a melhor pessoa do mundo: você mesmo. Cinco minutos por dia…Quem não pode parar cinco minutos para respirar e ouvir a própria voz??
Uma semana iluminada!
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seu blog é todo lindo e já se tornou um vício pra mim. obrigada por partilhar seus pensamentos!
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Ei… boa noite!!!
O que me preocupa é se esse lance dos olhos for como o dinheiro… Quanto mais temos, mais ficamos devendo… Talvez se tivéssemos mais olhos não pensaríamos tanto sobre nós mesmos, e sobre aqueles com quem convivemos…
E não teríamos pessoas como você… que conseguem enxergar tanto mesmo tendo apenas esses dois que Deus nos deu, e transmitir através de palavras tanta coisa bacana…
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Havia um menino que se chamava Kapila. Ele gostava muito de ler.
Ele lia de tudo, até bula de rememédio.
Quando sua mãe o mandava fazer algo na rua, quando ele não levava algum livro para ir lendo no caminho, ele pegava papéis do chão para ler.
Com os olhos ocupados na leitura, ele ia chutando o chão e estourando o dedão do pé – vivia com o pé sangrando e de nada adiantava os puxões de orelha que sua mãe lhe dava.
Parvati – a Deusa da sabedoria, observando o menino, apiedou-se dele e um dia cercou-o e ofereceu a ele um presente – o que ele pedisse!
Sem pestanejar ele pediu: – me dê olhos nos pés, assim poderei ler e caminhar ao mesmo tempo!
Ele ganhou os olhos e se tornou um dos homens mais sábios da Índia.
Um beijo e Om Shanti!
_/\_
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Eu, que já tenho quatro olhos, ficaria com seis! E se mesmo assim eu não enxergasse todas essas coisas aqui dentro, aí o problema seria bem pior (clichê pairando: o pior cego é o que não quer ver, não é mesmo minha gente???).
Não esquece sua armadura no nosso café.
grande beijo, Sil!
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Olá Silmara! Todo dia eu venho aqui para aprender um “cadinho” com seus textos. O exercicio de olhar pra dentro é muito, mas muito difícil – mas acho que vale a pena. Embora alguns empacam pelo caminho, mas somos seres em evolução né? Obrigada por compartilhar suas riquezas!
Bjão, Tia G (www.tiagenuina.blogspot.com)
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verdade poderíamos ter + 2 olhos
mas a gente sempre tenta ser feliz d todo jeito
vou tentar aparecer + vezes por aqui sim
ótima quinta pra vc tbém
bjuxx
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Nossa
Vc escreve bem demais
Ameiiiii
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Silmara, hoje eu vim pra agradecer!
Porque não tenho palavras, já não as tinha antes de vir visitar-te, e vim porque sabia exatamente onde encontrar algumas das palavras que me foram arrancadas com violência hoje logo cedo… e é claro que encontrei o que procurava aqui!
Um beijo enorme e carinhoso!
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So posso dizer, que meu dia é muito,mas muito melhor depois que venho aqui.
bjos delicia pra vc
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Olhos que enxergam o lado de dentro.
Seria fantástico e necessário.
Com eles descobriríamos os mistérios dos sentimentos humanos, e com certeza estaríamos mais preparados para arcar com eles.
[ou não]
Grande abraço. Ótimo dia.
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Lindo texto querida! Uma ótima leitura pra começar bem uma quinta-feira. Mais uma vez obrigada pelas palavras repletas de aprendizado.
Um bom dia para você também!
Beijos estalados na alma!
Layla Barlavento
http://culpadowalter.blogspot.com
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Cumadra, a Lispector passou aqui em casa e deixou-te um recadinho.
“É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo”.
Inda bem que há o ” O Terceiro Olho” pra gente ver “A Terceira Margem do Rio”, e o sonhar com o “Admirável Mundo Novo”, aquele onde “Perder-se também é caminho”.
Braço
Cumpadro
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Algumas vezes quando fechamos nossos olhos (aqueles cheios de pré-conceitos/julgamentos/teorias mirabolantes de conspiração/síndrome de pobre coitado) é quando realmente conseguimos enxergar. Seja através da pele que faz um rebuliço ao toque de uma gota d´água, seja através do coração que bate mais forte tentando demonstrar o quanto a gente está vivo e não sabe/ou se esqueceu, seja através do ouvido que fica mais atento a cada ruído… Sensações talvez sejam uma boa opção para o par de olhos extras que tanto precisamos…
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