Velha e chata. Mas sem errar o caminho

Jimmy Joe/Flickr.com

Como sempre, chego atrasada a mais uma invenção tecnológica.

Assim foi com o celular. Antigamente havia lista de espera para comprar um, e isso não é uma piada. Quando chegou minha vez, todo mundo já tinha o seu. Ou porque todos se inscreveram na lista antes, ou porque pagaram uma fortuna para tê-lo de outra forma. O que para mim era o fim da picada.

O primeiro aparelho de DVD foi há menos de dez anos. E através de uma promoção daquela revista famosa: você comprava uma assinatura e o aparelho era o ‘brinde’.

A máquina fotográfica digital só veio quando ninguém em casa aguentava mais carregar o trambolho manual – um excelente trambolho, é preciso registrar -, que precisava estar sempre na bolsa própria, térmica, imensa, pesada, infernal.

Não tenho Wii. Nem BluRay. Nem iPhone. Nem iPod. Nem ‘iSto’. Nem aquilo. Ainda. Mas já tenho um GPS.

Sua chegada em casa me fez concluir que talvez eu esteja ficando velha e chata. Não que não tenha gostado do brinquedo, pelo contrário: adorei. Inexplicável um aparelhinho ser tão sabido. E também tão, digamos, maternal: ao começar o passeio, ele recomenda: Dirija com cuidado! Um dengo.

Minha conclusão parte de uma pergunta: precisamos mesmo desse ajudante no dia-a-dia? Não tenho ideia de quantos GPSs circulam por aí nas mãos de gente comum. A ver pelo preço não é, ainda, item popular. O que não faz tanta diferença; o que me põe a pensar é o conceito que a engenhoca carrega em si. De utilidade e conveniência indiscutíveis, o GPS é ferramenta das mais bacanas para a aviação, exércitos, agricultura, geologia, enfim, em quase tudo um GPS vai bem.

Mas diga lá: o que foi feito do jeito antigo de se chegar aos lugares? Ver o endereço, anotá-lo na agenda, pegar um guia ou mapa, estudar a localização, o trajeto, memorizá-lo ou colocar o guia ou o mapa aberto no banco do passageiro, página marcada, e vamos lá. (OK, o Google Maps é uma mão na roda. Mas usá-lo não nos dispensa de pensar.)

O que foi feito da paradinha no posto de gasolina para pedir uma ajuda ao frentista? A segunda principal função dos postos, depois do abastecimento de combustível, é dar informações sobre endereços. A terceira é trocar o óleo.

O que foi feito dos caminhos novos, eventualmente mais longos ou distantes de qualquer lógica, porém repletos de surpresas, descobertos por acaso?

O que foi feito do erro percebido lá na frente? Ih, era ali que eu tinha que virar.

O que foi feito da eterna guerra dos sexos dentro de um carro? Você não sabe o cami-nhô… lalarilalá…

Com GPS, todo mundo sabe o caminho, sempre. Qualquer desconhecimento fica camuflado, imperceptível. A sabedoria, emprestada, torna-se nossa. A preguiça premiada: Leve-me ali. Assim é fácil.

Eu avisei. Estou ficando velha e chata.

6 comentários em “Velha e chata. Mas sem errar o caminho

  1. Meu GPS manda virar nas ruas contra-mão…. por isto, ainda recorro bastaaaante aos amados frentistas!
    Certa vez, no Rio, de tanto escutar a voz do GPS, meu sobrinho imitava:
    “vire à direita, a QUERENTOS metros…” . Ficou registrado, de tão engraçadinho que foi…

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  2. Ahhh.. eu não tenho um GPS e até precisaria de um… cada dia que passa sei andar menos em Sampa. Mas sabe de uma coisa? Eu sou mestra em pedir informações no posto de gasolina… rs. Tão mais fácil!!!….. Bju.

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  3. Silmara… Silmara….

    GPS… ô coisinha que me faz falta… (eu não tenho..)

    Se tem um nome para “Desnorteada”, esse nome é Liliam. Se eu te contar que um dia tentei me livrar do trânsito da Rua Oratório, acabei de cara com uma rua que não era sem saída, mas ia se afunilando até não passar mais carro… E o pior, não tinha, um posto de gasolina para eu perguntar o caminho de volta… Detalhe, moro no bairro desde 1975…

    Já uma amiga tem a Gertrudes (GPS). E o que mais ouço daquele aparelhinho é : Recalculando…. Ela simplesmente não segue o que a pobre Gertrudes fala e segue seus instintos. Agora, imagine sua amiga aqui, que até hoje não conseguiu aprender falar inglês, perdida em NY com uma baita “Mary Gertrudes” grudada no vidro do carro e olhando pra cara do homem tentando explicar o caminho de volta para o hotel…rs

    Beijos !!!

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  4. Silmara! Lembra-se de quando lhe pedi para me emprestar o seu “caderno de crônicas anotadas” para eu ler? Pois é… agora não preciso mais pedir esse empréstimo! Adoro “te ler” !

    Lembro-me também com saudades de muita coisa: principalmente da “maria fumaça” que está na foto que encabeça a crônica “Coisas de Campinas”…

    Mas lembro-me ainda, com saudades, de um fato curioso que ocorria nesse interiorzão dos Estados Brasileiros que visitavamos, e a Déa gostava sempre de pedir ajuda a algum caboclo para que nos ensinasse onde ficava “tal lugar ?”. E ele sempre ensinava, mesmo que não soubesse! Quanta gargalhada eu dava quando parávamos com “os burros n’agua”…
    Coincidência ou não, nesta madrugada ainda estavam conosco queridos amigos, um dêles taxista e que acabou de adquirir um GPS! Ficamos sabendo que essa tecnologia tem muito que evoluir ainda: se perde em certas circunvoluções complicadas e se mostra bastante desatualizada com as contra-mãos das vias públicas. Eu ainda vou continuar “entrando nos postos de gasolina” por mais algum tempo…
    Bjs.

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  5. Sil…..adoro ler o que escreve. Terça feira fomos a SP, Marialice e eu. Como o GPS dela ainda não havia chegado, busquei o google maps, que também é muito bom para quem ainda não possui esse aparelho. Ele me ajudou bastante. Acho que olhar a velha lista não se usa mais. Porém confesso que mesmo com os mapinhas impressos do google, parei duas vezes para pedir ajuda no ” posto de gasolina” .
    Beijos e bom final de semana!
    Debora

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  6. que foto bacana!!

    Xiiiiii Si, aqui esse é o item mais comum que vc possa imaginar, é dificil vc ver um carro sem ele. dificilimo! claro, pela facilidade de se viajar, as estradas sao mais que perfeitas, e todo mundo viaja de carro. o gps do carro é SUPER útil. Nunca vi coisa igual.

    Nós temos um, que cobre toda a europa, é incrivel o alcance que o bichinho tem. Só ficou piradona (eu digo piradona porque ela se chama Raimunda apesar de falar em alemao) em Paris, porque ohh cidadezinha pirada aquela, nao tem Raimunda que aguente!

    as criancas se amarram viajar com ela. e a nossa Raimunda é chique demais, fala todos os possiveis idiomas que vc imagina, menos português 😦

    mas entendo a sua reclamacao. as coisas simples nao existem mais, é tudo automático, um saco as vezes.

    mas olha, se fosse depender das perguntas do meu marido no caminho, a gent e iria viver se perdendo, porque eu nunca entendi o fato dos homens nao perguntarem as direcoes aos outro na rua…

    Bjs!

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