Vestindo a camisa

Foto: Patrícia Garcia/Flickr.com

Acontece de faltar algo no slogan daquelas camisas. Uma palavra, uma ideia, algo para dar continuidade ao que sujeito e predicado deixaram (de propósito?) no ar. E não falta apenas o objeto, direto ou indireto. “Para mulheres que decidem”, diz a frase. Ora, ora. Que decidem o quê?

Camisas para mulheres que decidem o destino dos milhões nas companhias ou das moedas no cofrinho do filho, louco para comprar um Lego?

Que decidem eleições ou o que a família vai comer no jantar?

Será que ela, camisa, cai bem tanto na mulher que decidiu ser mãe quanto naquela que jamais sonhou parir? Vestirá, igualmente, as que decidem interromper uma gravidez e as que resolvem adotar o bebê resgatado de um lixo-berço?

Ou é camisa para mulher que decide botar o bloco na rua, o blog na lua, posar nua?

E se ela representar o traje ideal para a mulher que decide salvar o planeta, mas deixa de salvar o cachorro faminto que passa a noite ao gélido relento?

Talvez seja para a mulher que já percebeu e, portanto, decidiu: a tristeza não lhe cai bem, e o melhor a fazer é vestir uma alegria bem bonita, com muitos bolsos, para ir guardando as felicidades que encontrar.

Nada disso, quem sabe? É roupa para mulheres que decidem pintar a sala de roxo e azul-turquesa num dia de colorida fúria. Que decidem encerrar o velho jejum de paixão, feito em nome de um amor evaporado. Que decidem por silicone aos dezesseis e fazer tatuagem aos sessenta. (Afinal, para umas, nunca é cedo. Para outras, nunca é tarde. E todas estão certas.) É vestimenta para mulheres que decidem não dançar conforme a música que toca e, em vez disso, compõem a própria trilha e saem bailando por aí. E que, bem sabem, camisa nenhuma confere poder de decisão a alguém – exceto a camisinha.

A camisa, parece, é generosa e nasceu para todas. Afinal, o que é um slogan? Um autorretrato bem encomendado ou uma enganação mal planejada? Eu, por enquanto, visto-me de ventania e vou flanando pelo mundo. Tudo que quero são roupas novas.

4 comentários em “Vestindo a camisa

  1. Adorei o post e, pensando bem, sou essa mulher aí descrita, dos 2 lados da moeda: aquela que decide fazer diferença, seja ditando moda ou, escolhendo o prato do dia.
    Mas, admito: sua roupa é bem mais bonita que da marca famosa!
    Falando na marca, também gostei do outro slogan usado por ela: “amor à camisa e às pessoas”!
    Beijo!

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  2. Sei bem qual é a camisa e conheço o slogan, fizeram um cocktail para o mulheril ” que decide” lá na empresa e fui incluída… nem dei bola em responder ao e-mail. Me ligaram, queriam saber se eu ..”iria atender ao cocktail para conhecer a nova coleção e aproveitar as tendências com preços imbatíveis”.. respondi que não, afinal, a tal camisa não iria acompanhar a milha silhueta, em crescimento desde então… mas vira e mexe cruzo com algumas que foram e adquiriram a peça da decisão.
    É Sil, vc é imbatível!

    beijo grande… to quaee lá masi 2 semaninhas e a Isa nasce.. assim espero.

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  3. e to eu aqui, com os olhos repletos e de coração quente lendo suas lindas palavras, vc me faz muito feliz com seus textos viu, e como vc mesmo disse, eu estou ventando, mudando minhas próprias estações e aceitando roupas novas.

    BEIJO
    Noh

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