Mais um da pasta vermelha, dando sequência à sessão retrô do blog. Este aqui eu escrevi quando tinha dezessete anos. O ano era 1984. Foi uma encomenda: minha irmã deu as três primeiras palavras, e pediu que eu escrevesse o resto. Ficou assim.
Foto: J.Mark Dodds/Flickr.com
Já era tarde e ninguém o escondia mais
Surgia da profunda dor o pavor, o calor, o senhor
Brusco alívio de amor
Enternecida, a mão que o afaga
Sorri que agrada; deseja, mas não fala
Alisa o pedaço de corpo que já se esquiva
Já não era dor, nem pavor
Era cor
Cor do corpo que transmite luz
Na doce dança que não mais traduz
A leveza do já partir
E a tristeza de mãe, de não poder ir
Fere. Estilhaça.
O pequeno corpo tão cheio de graça
Que ri sem graça, pois que graça ter?
Se ao nascer já parte
Não. Não há cores que a agrade
Parece assim, luz que ofusca, mas não arde
E reanima o pavor de todos nós
Pois que senão, já era tarde.
Demorei para passar de novo aqui. Agora que cheguei e li… deu aperto na garganta e admiração no coração. Que texto poderoso.
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Esse tem que ser o primeiro da série “Folha explica: Silmara Franco”.
Confesso que tive que parar, voltar, repensar e reler alguns versos para achar triste e lírico.
O que sua irmã achou?
Fiquei pensando que perdi você no tempo. Você se adiantou e veio antes para cá, e eu queria ter acompanhado e chegado junto, para te conhecer com essa idade. Mas que nada, te reencontrei com esse poema. A pasta vermelha é nosso ponto de encontro.
Beijo grande,
Camila
ilimitada-mente.blogspot.com
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Querida Silmara!!!
Muito representativo de todas as questões que levantamos em nossa adolescência.
Muito intuitivo do que deveremos sentir quando nossos filhos (já crescidos) decidirem que é hora de “partir”.
Acho que vc retrata muito bem uma época de conflitos incríveis e que se mostram, muitas vezes (no futuro), sem o menor sentido. (rsrs)
Me lembrei de minhas “questões” com minha mãe e vejo que realmente a alma adolescente é muito parecida.
Lindo!
bjsss e obrigada novamente
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Oi Sil.
Sabe que hoje cedo passei por aqui e li. Gostei muito, mas deixei sem comentário para refletir um pouco mais… Sabe o que é engraçado, quando conhecemos alguém, assim desse modo virtual? É que parece que conhecemos um personagem de filme, ou livro… para nós, aquela pessoa começou a viver naquele instante… Mas quando começamos a ler ou a conhecer esse personagem em outras épocas, em outros tempos, ele passa a ter passado, a ser construído no nosso imaginário num outro tempo… você deve me achar meio louca pensando assim… pois você é real e não personagem, assim como eu… mas fico aqui imaginando como era você aos dezessete anos e lembro de mim nessa idade… um monte de sonhos, de planos que nem fazia idéia de como concretizá-los, um monte de idéias ainda sem uma linha pra alinhavá-los. Lembro das noites acordada, sentada na janela do quarto, escutando música e olhando as estrelas, a voz do locutor, e a fraze que ele repete ainda hoje (sempre que escuto lembro das estrelas). Lembro das tardes intermináveis na feirinha de artezanato e das minhas agendas onde escrevia compulsivamente… Lembro dos medos e dos entraves dos sonhos daquele tempo. De tanta lembrança, não fica a nostalgia, mas sim o gosto agridoce de saber que nós caminhamos o caminho sonhado… então, lá no passado você já procurava o fio dessa meada e começava a enrolar o seu novelo, e com ele já ia tecendo as lindas história que contas nos contos… é como se já te conhecesse lá, agora que te li mais nova.
beijinho Sil
tenha uma ótima semana.
Josi
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Olá Sil, desde sempre dona das palavras, hein?
Lindo, lindo!
Beijos mil!
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Silmara o “seu retrô” é tão intenso. Toda vez que leio vejo puro sentimento, sensibilidade!
lindo! bjs
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